O sistema de Lições Aprendidas é um modelo da NATO, usado pelas Forças Armadas de vários países, incluindo pelo Exército português, que vai agora começar a ser aplicado à gestão dos incêndios.
O coordenador do projeto Nelson Ferreira explica a opção devido à complexidade do sistema de gestão integrada de fogos rurais, que tem inúmeras entidades, o que acontece também com a NATO, que é uma organização complexa com 30 países.
A ideia é refletir de forma transparente sobre o que funcionou ou não funcionou no combate a um incêndio, no trabalho da cada entidade, e que essa partilha de experiências sirva para melhorar a missão de todos.
Este major de infantaria, agora a trabalhar para a Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), garante que “o projeto não serve para avaliar. Serve para fazer uma reflexão sistematizada e estruturada sobre aquilo que aconteceu, e aquilo que deveria ter acontecido. Não faz monitorização nem avaliação”.
Nelson Ferreira garante que “não se trata de procurar culpados, nem saber quem foi o responsável pela falha”. “Aliás, não são só falhas. Estamos constantemente a falar de falhas, mas também temos que valorizar aquilo que correu melhor. As boas práticas também são elegíveis para este processo das lições aprendidas”, sublinha.
A necessidade de o sistema refletir e assumir os seus próprios erros, já constava do relatório da Comissão Técnica Independente que avaliou o ano trágico de 2017, mas foram precisos mais quatro anos até que a medida pudesse começar a ser aplicada.
Primeiro foi o longo processo de criação do Plano Nacional de Ação, onde consta como uma das 98 medidas que a AGIF quer aplicar até 2030, e depois a aparente dificuldade em juntar todas as entidades nesta tarefa conjunta.
Em entrevista à Renascença, Nelson Ferreira desvaloriza o facto do sistema só agora estar a promover esta reflexão interna.O coordenador do projeto lembra que “a análise dos incêndios de 2017 foi feita. Foi criada uma Comissão Técnica Independente que fez uma análise sem corporativismos, em que foram identificadas várias coisas que precisavam de melhorias”.
“Algumas foram implementadas, e a criação da AGIF é um exemplo disso mesmo. O que não existe, e estamos agora aqui a desenvolver, é criar um processo sistematizado onde se procure, não num incêndio com a natureza dos de 2017, mas no dia a dia ir identificando aspetos que correram menos bem, ou pelo contrário correram melhor, e com isso contribuir para a melhoria do sistema de fogos rurais.”
Os trabalhos desta nova missão a cargo da AGIF começaram, formalmente, no dia 1 de junho, com um workshop dedicado às lideranças das entidades envolvidas.
Nesse dia realizou-se a primeira reunião da subcomissão nacional de Lições Aprendidas do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, onde, ao mais alto nível, os oito organismos assinaram uma declaração de compromisso com este projeto.
Nelson Ferreira considera que “as lideranças têm um papel fundamental naquilo que vai ser a capacidade das lições apreendidas. Só com o compromisso das lideranças é que se consegue dar a robustez necessária para que este processo evolua. O centro de gravidade para este processo, é justamente a liderança”.
Já esta semana, na quarta-feira, dia 15, reuniu-se pela primeira vez o grupo permanente que senta à mesma mesa representantes de todas as entidades. Lá estiveram o Exército, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, a GNR, a Polícia Judiciária, a AGIF, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), e a presidência do Conselho de Ministros, mas também a Liga dos Bombeiros, cuja participação neste grupo não estava inicialmente prevista, mas, a seu pedido, passou a estar.