Pelo menos 75 mil refugiados estão bloqueados na fronteira entre a Síria e a Jordânia. A denúncia parte da Amnistia Internacional (AI), que diz que estas pessoas estão impedidas de receber ajuda humanitária numa região desértica na zona de Rukban.
A organização de defesa dos direitos humanos indicou que há gravações vídeo e imagens de satélite que mostram cemitérios improvisados, campas junto às tendas dos refugiados abandonados naquela terra de ninguém, sem quaisquer condições de sobrevivência.
Pedro Neto, director executivo da Amnistia em Portugal, explica que a Jordânia decidiu encerrar a fronteira há cerca de um ano, depois de um ataque às forças de segurança no local.
A Amnistia espera que esta situação seja analisada nas duas reuniões previstas para a próxima semana, em que vai ser debatida a situação dos refugiados. São dois encontros que vão ter lugar em Nova Iorque, um nas Nações Unidas, outro promovido pelo presidente norte-americano, Barack Obama.
Pedro Neto descreve as soluções possíveis para este problema: “O que a Amnistia tem vindo a pedir insistentemente às autoridades é que haja rotas seguras para estes refugiados puderem fugir da guerra. A segunda coisa que pedimos é que haja responsabilidades partilhadas dos países”.
"Abjecto falhanço do mundo"
Relatos recentes obtidos pela AI junto das pessoas da zona conhecida como "a berma" traçam um retrato de desesperado sofrimento humano e salientam as trágicas consequências do fracasso mundial em partilhar responsabilidades pela crise global de refugiados, uma semana antes de os líderes de todo o mundo se reunirem em Nova Iorque para duas cimeiras ao mais alto nível para debater o problema.
"A situação fornece uma imagem sombria das consequências do abjecto falhanço do mundo em assumir a responsabilidade pela crise global dos refugiados. O resultado inevitável deste fracasso é que muitos dos países vizinhos da Síria fecharam as fronteiras aos refugiados", disse a directora de Respostas a Crises da Amnistia Internacional, Tirana Hassan.
"É um cenário desesperado, o das pessoas encurraladas na berma, a comida está a acabar-se e a doença alastra. Em alguns casos, as pessoas padecem ou morrem mesmo de doenças evitáveis, simplesmente porque não lhes é permitido entrar na Jordânia e as autoridades bloquearam o acesso a assistência, tratamento médico e resposta humanitária significativa", insistiu.
Os países vizinhos da Síria, incluindo a Jordânia, que alberga 650 mil refugiados, acolheram a grande maioria das pessoas que fugiram à guerra, esgotando os recursos de que dispunham.