O que é a Transnístria? E como surgiu?
A Transnístria é uma faixa de terra com um terço do tamanho de Portugal. Pertenceu à antiga República da Moldávia até 1990, quando se autoproclamou como estado independente, depois de uma guerra de dois anos.
O colapso da antiga URSS potenciou o conflito, já que a pequena região tinha uma grande percentagem de separatistas pró-russos que não queriam deixar a tutela soviética.
Quando, em 1989, a Moldávia quis implementar o moldavo como língua oficial, os independentistas romperam definitivamente os laços com Chisinau, a capital moldava. A independência da Transnístria nunca foi reconhecida pela comunidade internacional, nem sequer pela Rússia, apesar do apoio concedido por Moscovo. E até hoje ainda permanecem soldados russos na região.
Onde se localiza?
A região do Leste Europeu tem cerca de 4.163 quilómetros quadrados, fica entre a Ucrânia e a Moldávia e é atravessada pelo rio Dniestre.
Mas é mesmo um país?
Apesar de não ser reconhecida como um Estado independente, e de ser apelidada de "país que não existe", a Transnístria tem, há mais de 30 anos, os seus próprios Governo, Constituição, moeda (rublo transnístrio), bandeira (a única no mundo que ainda tem a foice e o martelo comunistas), hino e feriados.
O nome oficial do país é República Moldava Peridniestriana, mas tornou-se corrente a denominação Transnístria, ou Transdniestre, ou ainda, Transdniéstria. O significado deste nome, em tradução livre, é “além do rio Dniestre”, o que acaba por ser incorreto, já que a região é atravessada pelo rio.
Os transnístrios não aceitam a denominação Transnístria porque a consideram um dítame moldavo.
O país tem também, uma capital, Tiraspol, que é a sua cidade mais populosa, e um autoproclamado Presidente, Vadim Krasnoselsky.
Qual a relação da Transnístria com a Rússia?
Com uma população de quase meio milhão de habitantes, que no último censos se dizia 29,1% russa, 28,6% moldava e 22,4% ucraniana, o russo é o principal idioma falado na região.
Os meios de comunicação a que recorre para informação são russos, como por exemplo, a agência noticiosa estatal russa RIA Novosti. Os jornalistas não são bem-vindos, sobretudo os estrangeiros, e é crime filmar no país sem autorização. Entre os raros casos em que essa autorização foi concedida conta-se o da realizadora portuguesa Salomé Lamas.
As organizações de Direitos Humanos alertam para a ausência de uma imprensa livre e de oposição ao Governo.
A televisão, tal como bancos e operadoras de telecomunicações, são propriedade de Viktor Gusan, um antigo membro do KGB, a extinta agência de serviços secretos da Rússia, transformada no FSB após a queda da URSS.
A Transnístria tem uma grande dependência da Rússia, e o fornecimento gratuito de gás, tal como o estacionamento de tropas, a que Moscovo chama de forças da manutenção da paz, e de cerca de 20 mil toneladas de munições e equipamento militar no território, demonstram-no bem.
E qual o seu papel na guerra na Ucrânia?
De um lado, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que garante que a intenção da Rússia é entrar pela Transnístria para invadir a Moldova (ou Moldávia), do outro, os russos, que dizem não garantir que a Transnístria não entre no conflito.
Até agora esta conjuntura levou a que a Moldova accionasse o alerta máximo e acelerasse o processo de adesão à União Europeia. O país, embora um dos mais pobres da Europa, tem sido um ponto de chegada de refugiados ucranianos que fogem da guerra.
Mas se os moldavos receiam uma potencial invasão russa a partir da Transnístria (com a Presidente moldava, Maia Sandu, a acusar, este mês, o Kremlin de estar a conspirar um golpe de Estado), também os ucranianos veem a possibilidade contrária com cada vez maior probabilidade.
Facto é que altas patentes militares russas já assumiram a ambição de controlar o sul da Ucrânia, abrindo um corredor terrestre até à Crimeia, com “influência nas infaestruturas chave da economia ucraniana, como os portos do Mar Negro, por onde são feitos os embarques de produtos agrícolas e metalúrgicos”.
Há pouco mais de uma semana, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, declarou que se sente uma crescente destabilização na região separatista devido a "provocação exterior", e aproveitou a oportunidade para responsabilizar a Ucrânia e a comunidade internacional.
Uns dias antes, os russos alertaram que qualquer ação contra as suas forças militares que se encontram na Transnístria seria considerado um ataque direto à própria Rússia.
Noutra ocasião, Peskov disse que “A Rússia foi e é uma parte responsável em relação aos assuntos da Transnístria e continua a cumprir as suas funções correspondentes”, enquanto aconselhava a Moldova a “ser extremamente cuidadosa a [esse] respeito” e a deixar de lado a histeria anti-russa que prejudica as relações bilaterais.
Isto tudo depois de Dorin Rechau, o primeiro-ministro moldavo, ter vindo a público pedir a retirada das tropas russas da Transnístria.
Existe a teoria de que, se Putin tivesse conseguido estabelecer o tal corredor terrestre até à Transnístria, teria usado o país como moeda de troca para manter a influência russa sobre a Moldova, concedendo um estatuto especial à região, que voltaria para a alçada moldava com Governo pró-russo e alargaria o seu poder na região -- e que foi com isso em mente que nunca reconheceu a Transnístria como país independente.
Esta quinta-feira, o Ministério da Segurança Pública da Transnístria disse que conseguiu neutralizar um ataque ucraniano contra altos responsáveis nacionais.
Certo é que desde o início da guerra tem-se especulado que Putin pretende abrir uma frente pela Transnístria em direção a Odessa, a principal cidade portuária no sul da Ucrânia.
[notícia atualizada às 11h39 de 11 de março de 2023]