Prescrição Cultural. Universidade do Porto recebe primeiro encontro sobre o tema
19-07-2024 - 18:32
 • Renascença

Iniciativa junta profissionais de saúde e agentes culturais com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar através da arte e da cultura.

O que é a prescrição cultural? Essa é a primeira de muitas perguntas que salta à vista num encontro que é feito delas. O I Encontro Nacional sobre a Prescrição Cultural arranca esta sexta-feira no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto, e prossegue, no sábado, no Museu Nacional Soares dos Reis.

Inquietar as pessoas e abrir os horizontes, sobretudo no que diz respeito à articulação entre a arte e a saúde, é o objetivo do encontro, explicou à Renascença a vice-reitora para os museus e cultura da Universidade do Porto, Fátima Vieira.

O programa do encontro é dividido entre os dias 19 e 20 de julho. No dia 19 será apresentado um projeto piloto que já se concretizou em oito municípios do distrito de Évora e será apresentada uma nova unidade curricular, uma "novidade absoluta", segundo Fátima Vieira.

“Vamos apresentar uma nova unidade curricular de competências transversais e transferíveis de prescrição cultural. Será uma novidade absoluta, diria eu mesmo, a nível internacional. Vamos intervir já precocemente a nível da formação universitária dos nossos estudantes, vamos sensibilizá-los exatamente para esta articulação que é possível e que já está documentada, já está estudada entre a arte e a saúde”, disse.

Durante os dois dias do evento, haverá “mesas redondas” com a participação de alguns médicos.

Para a implementação de projetos de grande escala, a vice-reitora revelou algumas parcerias: “A Universidade do Porto vai administrar um consórcio de prescrição cultural". Estarão envolvidos, além do Museu de História Natural e da Ciência, um conjunto de instituições como a Fundação Casa de Mateus, a de Vila Real, o Museu Abado de Bassado, em Bragança, o Museu Alberto Sampaio, em Guimarães, ou o Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.

Também a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e a Universidade do Minho e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro serão parceiras. "A pergunta vai ser o que é que nós queremos esperar quando as instituições colaboram. E quando as instituições colaboram, torna-se realmente possível a implementação de projetos de grande escala. E aqui, aquilo que este consórcio vai permitir, é exatamente um compromisso coletivo, por parte de todos estes parceiros, para a definição e para a implementação e monitorização de estratégias de promoção da saúde mental e da saúde através da cultura e das artes”, revelou Fátima Vieira.

A Universidade do Porto irá criar um programa de intervenção sistemática dividido em três eixos. O primeiro é o da formação, com a criação da unidade curricular disponível a todos os estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento da Universidade do Porto. Também haverá uma formação para profissionais de saúde, mediadores culturais e artistas em exercício de funções.

O segundo eixo corresponde à ação. A Universidade do Porto e a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação irão apoiar a implementação de atividades. “Vai fazer consultoria, vai monitorizar também essas mesmas atividades e sobretudo, vai tentar fazê-lo articulando com os médicos e os psicólogos, nomeadamente os dos Serviço Nacional de Saúde”, explicou a vice-reitora.

O último eixo é o da investigação. A partir da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, e em articulação com o Centro de Psicologia da Universidade do Porto, não haverá apenas um monitorizar das ações, mas também instrumentos para a medição do impacto. Segundo a Organização Mundial de Saúde, as artes e a cultura poderão ter um impacto positivo na saúde e no bem-estar das comunidades.

Questionada sobre os principais desafios na implementação da prescrição cultural em Portugal, Fátima Vieira afirmou que será o reconhecimento dos médicos. “O primeiro desafio será conquistar a classe médica. Será importante que os médicos reconheçam, na prescrição cultural um instrumento importante nas suas terapias."

A primeira vez que ouviu falar de prescrição cultural, conta, foi na Suécia. "Eles fizeram uma distinção que, para mim, se tornou muito evidente, entre a saúde física, a saúde mental e a saúde existencial. A saúde existencial tem uma dimensão muito mais abstrata, tem a ver com a nossa realização pessoal. E, nessa altura, nós estávamos muito preocupados, como ainda hoje estamos muito preocupados com a saúde mental dos nossos estudantes, sobretudo depois da Covid, do isolamento, etc. E nesse momento, quando eu vi essa distinção, tornou-se muito claro para mim que os nossos estudantes, na sua maioria, têm problemas existenciais.”

Em relação aos resultados dos testes que têm sido feitos, Fátima Vieira afirmou que têm sido positivos.

“Por exemplo: doentes oncológicos, terminais já, um grupo que opta apenas por paliativos, mas ficando no hospital. E outro grupo que opta por ir para casa e aderir à prescrição cultural. E, curiosamente, este segundo grupo tem mais tempo de vida e com maior qualidade do que o primeiro grupo”, revelou.

O evento realiza-se dias 19 e 20 de julho, entre o Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto e o Museu Nacional Soares dos Reis, na cidade do Porto, e será composto por mesas redondas com vários convidados. Os interessados que se deslocarem aos locais onde o encontro se realiza também podem participar no debate.