As autoridades francesas intensificaram os trabalhos para concluir a demolição do acampamento "Selva" de Calais, actualmente praticamente deserto, enquanto mais de 100 juristas franceses pediram à Grã-Bretanha para aceitar menores não-acompanhados que viviam no campo de migrantes.
Pouco depois das 8h00 locais (6h00 TMG), três grandes escavadoras chegaram ao perímetro norte do campo, onde viviam, até terça-feira, 6.000 a 8.000 migrantes, para destruir as suas habitações improvisadas.
Muitas tendas e barracas foram destruídas em enormes incêndios que deflagraram na quarta-feira no acampamento, um símbolo da crise de migrantes na Europa, em cuja entrada permanecem uma dúzia de carrinhas da polícia antimotim.
Os funcionários devem terminar a limpeza na segunda-feira à noite e hoje de manhã havia pouco sinal de vida no local, à excepção dos operários e da polícia.
O presidente francês, François Hollande, congratulou-se hoje com o sucesso da evacuação do campo e afirmou que a França não iria aceitar mais campos de migrantes improvisados.
"Não houve incidentes do início ao fim", disse Hollande, durante uma visita a um centro de acolhimento para os migrantes em Doue-la-Fontaine no oeste da França.
"Tivemos que enfrentar o desafio da questão dos refugiados. Nós não podia tolerar o acampamento e não vamos tolerar quaisquer outros", acrescentou.
Em Paris, mais de 100 juristas de esquerda enviaram uma carta ao ministro do Interior britânico, Amber Rudd, apelando ao governo britânico que "imediatamente" receba os menores não-acompanhados da "Selva", que querem juntar-se aos respectivos parentes no Reino Unido.
Na carta, uma cópia da qual foi enviada à agência AFP, afirmam que 1.500 menores não-acompanhados tinham sido colocados em segurança num centro de acolhimento provisório - um campo de contentores - em Calais.
"Não estão a pedir nenhum favor: eles têm o direito, em conformidade com as normas internacionais vigentes e a lei britânica, de ir para a Grã-Bretanha. A transferência para a Grã-Bretanha é urgente. Pedimos-lhe para assumir as suas responsabilidades e assumir o seu dever moral, no sentido de imediatamente organizar a sua chegada", escrevem os juristas.
A Grã-Bretanha já recebeu 274 crianças da "Selva" desde meados de Outubro, na sua maioria jovens com familiares já residentes no país.
As associações britânicas de ajuda aos refugiados estimaram na sexta-feira que estavam ainda mais de mil crianças desacompanhadas a viver no campo de contentores.
As crianças que foram informadas de que eventualmente se iriam juntar aos familiares em Inglaterra estavam hoje preparadas, na esperança de serem encaminhadas no final do dia.
Os migrantes, originários sobretudo do Afeganistão, Sudão e Eritreia, chegaram ao campo junto ao porto de Calais com a esperança de atravessarem o canal para a Inglaterra.
Clare Moseley, fundador da instituição de caridade britânica Care4Calais, mostrou-se preocupado com aqueles que deixaram o acampamento e dispersaram por toda a França.
Muitos dos moradores de Calais temem que a "Selva" regresse assim que as autoridades abandonem o local.
Um alto funcionário regional, Jean-François Carenco, disse na sexta-feira que mais de 2.000 migrantes estavam a dormir nas ruas de Paris, mas negou que estas pessoas tenham chegado de Calais nos últimos dias, depois de a notícia se ter espalhado através da Internet.