Na passada quarta-feira teci rasgados elogios à forma como Schmidt montou a pressão. Falei até em ares de Benfica 22/23, aquela máquina de pressão que o alemão montou. Disse que Aursnes ajudou o Benfica a subir no terreno e a encostar o Sporting às cordas. Com tão poucos dias de preparação para o segundo round, os treinadores tinham missões bem diferentes, na preparação estratégica para o jogo do campeonato.
De um lado, Roger Schmidt tinha de replicar a postura do jogo da Taça de Portugal e conseguir, se possível, acrescentar um elemento de surpresa assente na continuidade e nos sinais positivos. A repetição do 11 foi o primeiro passo nesse sentido.
Uns quilómetros à frente na segunda circular, Rúben Amorim tinha missão bem diferente: corrigir os erros do jogo que apurou o Sporting para o Jamor, aproveitar a largura com mais propriedade e melhorar a equipa com bola. Era mais fácil a tarefa do treinador do Sporting, porque eram evidentes as melhorias que se podiam fazer.
Neste texto, e não sendo tão profundo como o anterior, pretendo elevar a capacidade de adaptação de um dos técnicos mais ‘sexy’ da Europa (e não me refiro ao aspeto físico do treinador leonino).
Geny entrou para o 11 e fez a vida muito difícil a Aursnes. Com o norueguês a pressionar Trincão cada vez que o 17 aproximava para pedir a bola, Geny ficava solto na ala. Era uma questão de fazer a bola chegar lá. Diferente de Esgaio, o moçambicano teve a capacidade de tirar adversários no 1x1. A pressão do Benfica deixou, com uma troca individual, de ser tão efetiva, tal como tinha acontecido na segunda parte na Luz.
Do outro lado houve Pote em vez de Paulinho. À parte do lance genial logo a abrir, o número 8 tem a capacidade de andar um pouco por todo o lado. Dificulta a vida a Bah e a toda a teia defensiva do Benfica. Acrescento que o Sporting é mais equipa com Pedro Gonçalves em campo, sempre.
Trocas realizadas com sucesso, passamos à abordagem estratégica. Desta feita, Inácio esteve muito mais confortável com bola, em passe ou condução, e os centrais sem problemas em variar na largura sempre que necessário. A bola tinha de lá chegar, e desta vez o Sporting utilizou as ferramentas certas para materializar essa superioridade.
Outro fator assinalável é o registo competitivo que Amorim incute na sua equipa. Marca a abrir, marca a fechar, e aqui aceito a causalidade do momento, mas o Sporting joga quatro vezes contra o Benfica na temporada e marca sempre primeiro. Diz alguma coisa da vontade dos seus jogadores, sobretudo num jogo em que ao Benfica apenas a vitória interessava.
Não sei se fica em Portugal, mas era bom vê-lo por cá durante mais anos. Comunica de forma exímia, não foge às questões, trata jornalistas com respeito e parece mesmo ser um bom tipo. Para gáudio dos adeptos do Sporting, junta isto à capacidade de melhorar a equipa praticamente jogo após jogo. Reinventa o Sporting, tão diferente de quando começou, mesmo utilizando o 3x4x3 inicial, e aproxima os leões das decisões, dos títulos, da grandeza do clube.
Quanto a este ano, o Sporting tem uma mão no título. Vamos ver como se comporta a equipa após este passo de gigante, mas concluo dizendo que a vitória sobre o Benfica também foi dos jogadores, mas sobretudo de Amorim.