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Antigos gestores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) aprovaram 80 créditos ignorando os alertas da Direção Global de Risco (DGR), até 2015, que resultaram numa perda de 769 milhões de euros.
A informação consta do relatório final da auditoria da EY ao banco estatal, que foi entregue esta sexta-feira na Assembleia da República.
Os auditores olharam para 170 grandes operações de concessão de crédito e a maioria dos empréstimos (80) acabaram por ser concedidos sem luz verde da DGR ou cumprindo as suas recomendações.
Estas 80 operações totalizaram perdas de 769 milhões de euros (43,7% do total). Receberam um parecer de risco "condicionado ao acolhimento de um conjunto de requisitos prévios à concessão do crédito”.
No entanto, “o Órgão de Decisão [que tomou a decisão de conceder o crédito], para além de não fazer depender a sua aprovação da concretização das respetivas condicionantes, não deixou evidência escrita que justifique esta decisão", refere a auditoria conhecida esta sexta-feira.
Apenas 14 operações de concessão inicial de crédito receberam parecer de risco favorável da DGR.
As perdas deste tipo de operações incluídas no Top 25 que a auditora compilou, como sendo as mais problemáticas, "totalizaram 238 milhões de euros, o que corresponde a 13,5% das perdas totais da amostra”.
Houve ainda casos em que "não foi obtido o respetivo parecer individual de análise de risco", que totalizam 15 operações, sendo que as perdas destas operações no Top 25 totalizaram 86 milhões de euros, "o que corresponde a 4,9% das perdas totais da amostra", lê-se no relatório.
Por outro lado, em 43 operações analisadas, num total de 122 milhões de euros em perdas (6,9%), no Top 25, o parecer de risco foi condicionado, mas "as respetivas condicionantes ou foram acolhidas por parte do órgão competente ou existe uma justificação para a sua não acomodação por parte do mesmo".
O documento dá ainda conta de "operações que foram autorizadas pelo Órgão de Decisão competente (em linha com normativo existente) com parecer de risco que acompanhava a proposta comercial desfavorável, não tendo sido apresentada evidência do racional que esteve subjacente à decisão", num total de 13, "verificando-se que do Top 25 as perdas destas operações totalizaram 48 milhões de euros, o que corresponde a 2,8% das perdas totais da amostra".
A EY analisou também a prestação de garantias adequadas para estes empréstimos, tendo em conta que "existe a recomendação que nas operações com prazo superior a 18 meses sejam obtidas garantias reais (hipotecas ou penhores) que garantam com segurança pelo menos 120% do valor do crédito".
Assim, em 186 operações em análise, 141 operações tinham prazo superior a 18 meses. Em 72 as garantias reais cobriam menos de 120% do crédito, com perdas de 716 milhões de euros nos 25 casos mais problemáticos (40,7%).
A auditora também recolheu dados sobre a reestruturação de créditos e chegou à conclusão que, de 246 operações, apenas nove receberam parecer de risco favorável dos órgãos competentes do banco.
O relatório foi hoje entregue pelo presidente da CGD, Paulo Macedo, no parlamento, depois de uma versão preliminar ter sido amplamente noticiada nos últimos dias.