Vaticano promete manual e grupo de trabalho para ajudar bispos a combater abusos
24-02-2019 - 12:56
 • Filipe d'Avillez , Aura Miguel

O Papa vai também escrever um “motu proprio” sobre proteção de menores e atualizar as leis que abrangem o Vaticano.

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A Igreja Católica vai ter um manual para ajudar os bispos do mundo a compreender bem as suas obrigações e os seus deveres no que diz respeito a lidar com abusos sexuais contra menores.

O arcebispo Charles Scicluna, de Malta, um dos maiores especialistas da Igreja Católica em lidar com esta problemática, já tinha referido em conferências de imprensa anteriores que a Congregação para a Doutrina da Fé estava a trabalhar neste manual, mas agora confirma-se que será apresentado muito em breve e que será “curto e preciso, mas muito específico em termos jurídicos e pastorais”, segundo o padre Federico Lombardi, que ajudou a organizar a cimeira.

Novidade foi também o anúncio, nesta última conferência de imprensa, da criação – também para muito breve – de um grupo de trabalho que terá como missão ajudar as dioceses que têm mais dificuldades, ou menos recursos, para lidar com estas questões.

Segundo o padre Federico Lombardi estão também em preparação novos documentos jurídicos, incluindo um “motu proprio” para reformar e melhorar as leis do Estado do Vaticano para lidar com abusos sexuais de menores. A Santa Sé dá assim o exemplo, depois de o Papa ter deixado claro que espera que todas as conferências episcopais renovem e atualizem as suas próprias normas internas.

O arcebispo Scicluna também falou, assinalando a publicação destas novas normas, mas sublinhou que mais importante que qualquer lei é uma mudança do coração. "Já se percebeu que o abuso sexual é um crime terrível, mas que o encobrimento também é. E não há volta atrás. Durante décadas focámos o crime, mas agora percebemos que o encobrimento é igualmente mau. Diria que se houve um momento em que isso ficou claro para todos foi nesta cimeira."

"No final de contas o que é importante é uma conversão do coração. Para isso é preciso a motivação certa. Esta tem sido uma peregrinação curta – e prefiro usar o termo peregrinação – e essa mudança deve-se à escuta de diferentes vozes. As vozes das mulheres foram particularmente importantes, uma brisa fresca que precisávamos de ouvir para mudar de coração. A voz das mulheres na Igreja é crucial, para não falharmos", disse.

O padre Hans Zollner, outro dos principais especialistas da Igreja, disse que durante os dias da cimeira tinha ouvido várias pessoas a dizer que tinham sentido precisamente essa mudança de coração.

A cimeira sobre abusos sexuais e proteção de menores começou na quinta-feira, dia 21 de fevereiro, e terminou este domingo com um discurso do Papa Francisco.