Os preços dos bens essenciais continuam a subir nos supermercados.
Tem sido uma constante desde o início da guerra na Ucrânia e da instabilidade na economia europeia e nos meios de produção de bens essenciais e de energia.
Mesmo com a taxa de inflação a registar um abrandamento, os preços no supermercado não têm refletido isso. Afinal, porque é que os preços continuam a aumentar?
O abrandamento da inflação não afeta os alimentos?
A expressão "abrandamento" não pode ser confundida com descida. Significa que os preços continuam a aumentar mas a subida média é, agora, menos íngreme - sobem, mas sobem menos.
E, depois, é preciso ver que a variação da taxa de inflação não pode ser medida, unicamente, pelo preço de um cabaz alimentar. Além da comida, pagamos água, eletricidade, combustíveis, etc.
Ou seja, alguns preços estarão a subir menos - e eventualmente alguns até podem cair - mas há outros que continuam a subir a bom ritmo.
A variação da inflação - a cada momento - resulta de uma média. O que está a acontecer na prática é que ainda não se nota um abrandamento na subida dos preços dos bens alimentares. Em alguns casos, pelo contrário, continuam a subir a um ritmo vertiginoso.
O pico da inflação já terá sido ultrapassado?
Já e são os economistas que o dizem.
Bruxelas acredita que esse pico terá sido alcançado no quarto trimestre de 2022. Ou seja, os preços continuam a subir - uns mais do que outros - mas já sobem menos.
De acordo com o INE, em outubro de 2022, a taxa de inflação situava-se nos 10,6%. Em Janeiro de 2023 - segundo a União Europeia - a taxa de inflação homóloga de Portugal abrandou para 8,4% e as previsões de Bruxelas apontam para uma inflação de 5,4% no final deste ano. Ou seja, a media dos preços vai continuar a subir mas, tudo indica, irão subir menos.
A Deco foi às compras há um ano, precisamente no dia em que começou a guerra na Ucrânia e foi verificando - mês após mês - a variação de preços, até agora. E sempre com base num mesmo cabaz alimentar, de 63 produtos essenciais. Quanto é que custou esse cabaz em fevereiro de 2022, e quanto é que custa agora?
Custava 183 euros e agora custa 228 euros.
Estamos a falar exatamente dos mesmos produtos, e nas mesmas quantidades. Na prática, à passagem da caixa registadora, a Deco-Proteste paga agora mais 45 euros do que há um ano, pelo mesmo cabaz.
É uma variação que ultrapassa os 24%.
Nesse carrinho de compras quais são os alimentos que mais subiram, no último ano?
A polpa de tomate, por exemplo, subiu 83%. E o arroz carolino subiu 73%.
Estes produtos - a par da pescada ou do carapau, que subiram mais de 63% - fazem parte do "top ten" das subidas.
Os lacticínios registaram uma subida próxima dos 30%. Antes da guerra, um litro de leite meio-gordo custava 68 cêntimos, custa agora 97 cêntimos.
E, atenção: O aumento de preços tornou-se verdadeiramente vertiginoso sobretudo a partir de meados de outubro.
Mas já se nota agora alguma desaceleração da subida dos preços dos bens alimentares?
De acordo com a Deco, ainda não.
A Associação de Defesa do Consumidor sublinha que mais de metade dos 8,4% da inflação registada em janeiro fica a dever-se precisamente ao aumento de preços na categoria "Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas"
Mas como é que se explica que os bens alimentares continuem a puxar tanto os preços para cima?
A Deco lembra que desde que determinado bem é produzido, até que chega à caixa registadora, passa por diversos intermediários.
É um ciclo extenso que começa no produtor, passa pelos armazenistas, transportadores e finalmente os retalhistas.
O que acontece, segundo a Deco, é que existe pouca clareza nos diversos elos desta cadeia de abastecimento.
A Deco considera, por isso, que o governo deveria adotar um papel mais ativo no acompanhamento dos preços de bens alimentares, seja no plano legislativo, seja por via da fiscalização da ASAE.