Decisão de Trump em comutar sentença de amigo e conselheiro vai ser investigada
11-07-2020 - 19:22
 • Lusa

Roger Stone, que aconselhou Trump durante anos, foi detido pelo FBI em janeiro de 2019. De acordo com a Procuradoria-Geral, Stone atuou como ligação entre a campanha de Trump e a plataforma WikiLeaks, que divulgou e-mails roubados do Comité Nacional Democrático, prejudiciais para a campanha da candidata presidencial de Hillary Clinton.

O Partido Democrata anunciou que vai investigar os motivos e as circunstâncias da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em comutar a pena de prisão de 40 meses do amigo e antigo conselheiro Roger Stone.

Duas comissões da Câmara dos Representantes, que é controlada pelos Democratas, vão solicitar informações aos serviços jurídicos da Casa Branca sobre as circunstâncias que levaram à comutação da sentença de Stone, além de documentos do Departamento de Justiça relacionados com o caso do antigo consultor político, condenado na sequência da investigação à interferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016.

A líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, não deixou de considerar a decisão de sexta-feira de Trump “um ato de corrupção chocante” e assegurou através de um comunicado que o Partido Democrata vai procurar alterar a lei, no sentido de limitar os poderes presidenciais sobre comutação de sentenças em relação a casos ligados ao presidente.

“O Congresso vai tomar medidas para prevenir este tipo de irregularidades flagrantes. É necessária legislação para assegurar que nenhum presidente possa perdoar ou comutar a sentença de uma pessoa que se tenha envolvido numa campanha de encobrimento para proteger esse presidente de processos criminais”, referiu Pelosi.

Também o candidato democrata às próximas eleições presidenciais, Joe Biden, demonstrou a sua indignação perante este caso, ao defender que Donald Trump “abusou uma vez mais do seu poder” enquanto presidente dos EUA e apelou aos eleitores para “fazerem ouvir a sua voz” nas urnas.

Já no Partido Republicano, o senador Mitt Romney - ex-candidato presidencial em 2012 e único republicano a votar em fevereiro a favor da destituição de Trump no processo relacionado com as pressões sobre a Ucrânia para investigar Biden – foi o único a criticar abertamente o presidente americano por evitar a entrada de Roger Stone na prisão, que estava prevista para a próxima semana.

“Corrupção histórica sem precedentes: um presidente dos EUA comuta a pena de prisão de uma pessoa condenada por um júri por mentir, a fim de proteger esse mesmo presidente”, escreveu o senador republicano pelo estado do Utah na rede social Twitter.

Também numa mensagem publicada hoje no Twitter, Donald Trump voltou a sair em defesa do antigo conselheiro político, ao afirmar que “Roger Stone foi alvo de uma caça às bruxas ilegal que nunca deveria ter tido lugar”. O líder da Casa Branca apontou ainda aos “criminosos do outro lado”, acusando Joe Biden e o ex-presidente Barack Obama de espiarem a sua campanha presidencial em 2016.

Caracterizado pelo seu estilo provocador, Stone é um veterano consultor político republicano cujos clientes incluíam os antigos presidentes Ronald Reagan (1981-1989) e Richard Nixon (1969-1974) e cujo lema favorito é "Nada admitir, negar tudo, e ripostar".

Stone, que aconselhou Trump durante anos e trabalhou até agosto de 2015 na sua campanha eleitoral, foi detido pelo FBI em janeiro de 2019 em Fort Lauderdale, Florida.

De acordo com a Procuradoria-Geral dos EUA, Stone atuou como ligação entre a campanha de Trump 2016 e a plataforma WikiLeaks, que divulgou e-mails roubados do Comité Nacional Democrático, prejudiciais para a campanha da candidata presidencial de Hillary Clinton.

Stone foi condenado como parte da investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller da conspiração russa, que exonerou Trump de ter conspirado com a Rússia durante o processo eleitoral de 2016, mas lançou dúvidas sobre a capacidade do Presidente para obstruir a investigação.