Por que devemos estar preocupados com a crise na Alemanha?

Esta crise política na Alemanha promete ter impacto económico em todo o continente. É uma expressão bastante gasta, mas a Alemanha é habitualmente designada "motor da Europa" e o motor está em vias de ficar “gripado”.

Esta crise política surge no pior momento possível. A Alemanha tem enfrentado uma crise industrial crescente, a que se somam agora as os receios com as possíveis repercussões da eleição de Donald Trump nos EUA, quer no comércio internacional, quer na segurança europeia.

Afinal, o que se está a passar na Alemanha?

Do ponto de vista político, o que se passa é que a Alemanha é governada há três anos por uma coligação muito frágil - habitualmente designada de “semáforo” -, que até quarta-feira juntava os social-democratas do chanceler Olaf Scholz, os liberais do FPD e os Verdes.

Olaf Scholz demitiu o seu ministro das Finanças, Christian Lindner, que é simultaneamente o líder do FDP. Em causa, estiveram divergências orçamentais e os constantes "ultimatos" que Lindner dirigia a Scholz.

O chanceler fartou-se desses ultimatos e decidiu afastar o ministro, alegando que perdeu a confiança nele. E não saiu apenas Lindner, por arrasto abandonaram o Governo outros três ministros liberais.

O SPD, do chanceler alemão, deixou de ter maioria no parlamento?

Sim, Scholz já nomeou um novo ministro das Finanças - trata-se de Jorg Kukies, um conselheiro muito próximo -, mas a questão é essa: já não tem o apoio de uma coligação maioritária no parlamento Berlim, o Bundestag. Neste quadro, a oposição pede agora a Scholz que apresente de imediato uma moção de confiança. Em contrapartida, o chanceler só quer submeter-se à votação dos deputados em meados de janeiro.

Se essa moção de confiança for só apresentada em janeiro, que Governo vai ter a Alemanha até lá? Não há um orçamento para aprovar?

Há. Aliás, foi por causa das divergências sobre o Orçamento para 2025 que a coligação se desfez, mas a ideia de Scholz será liderar um Governo minoritário durante alguns meses.

Seria uma espécie de Governo de gestão, que se limitaria a tentar aprovar alguns diplomas legislativos prioritários, recorrendo para isso a negociações caso a caso. Se for chumbada a moção de confiança, a Alemanha vai para eleições antecipadas.

Esta crise política acontece num cenário de problemas na economia?

São duas coisas que andam interligadas. No caso da Alemanha, somam-se vários fatores, desde as dificuldades que o país teve para recuperar da pandemia, os efeitos da guerra na Ucrânia e a concorrência da China. A própria indústria automóvel alemã está em crise com o despedimento anunciado de milhares de trabalhadores e encerramento de fábricas.