Está escolhido o grupo de monjas que vai fundar o Mosteiro Trapista de Santa Maria Mãe da Igreja, em Palaçoulo, Miranda do Douro. A abadessa será a monja Giusy.
São 10 monjas, sete têm menos de 40 anos, e vêm do Mosteiro de Vitorchiano, em Itália. O grupo já iniciou a formação em língua portuguesa e em história da Igreja em Portugal.
A construir no lugar do Alacão, na freguesia de Palaçoulo, em Miranda do Douro, o mosteiro para 40 Monjas, será orientado para a contemplação e culto divino, e segundo a regra de São Bento.
O bispo de Bragança-Miranda acredita que “a bênção da primeira pedra” poderá acontecer em Maio, revelando que “o processo de instalação do mosteiro está a correr bem" e as “questões burocráticas e de arquitectura estão a ser ultrapassadas”.
D. José Cordeiro deseja que o mosteiro “fale através da oração, do silêncio, da paz, do trabalho” e realça a importância cultural desta iniciativa, esperando que a presença das monjas contribua para dar “centralidade ao Interior”, até com “uma nova rota de turismo”, com o previsível aumento de visitantes, atraídos pela “espiritualidade trapista”.
O milagre da partilha. E a menina dos olhos de Palaçoulo
O Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja será construído em terrenos doados pela Paróquia de S. Miguel de Palaçoulo, em colaboração com paroquianos e a Junta de Freguesia.
António Cangueiro, um dos responsáveis pela Fábrica da Igreja de Palaçoulo, é apelidado na aldeia como “o homem do mosteiro” e percebe-se porquê. Em menos de trinta dias, conseguiu o terreno necessário para construir o mosteiro.
“Houve uma ajuda lá de cima, que foi uma ajuda para nós. Em menos de 30 dias, conseguimos este terreno todo que vemos à nossa volta. Dialogamos com cerca de 60 proprietários e foi possível concretizar este sonho”, conta à Renascença.
Um sonho – o mosteiro - que é já “a menina dos olhos de Palaçoulo e será também de Portugal” e que vai ajudar a “desenvolver toda a região, na medida em que vai atrair muitos turistas. E sabemos bem como o turismo religioso gera fluxos muitos grandes”, diz António.
O mosteiro vai nascer em 30 hectares de terreno, de onde se avista “uma paisagem sem fim, onde o silêncio fala e onde nos sentimos em paz”, conclui António Cangueiro.
“Nem somos capazes de dar valor ao que vamos ter”
“Palaçoulo, que já anda nas bocas do mundo, porque é a única aldeia do país onde não há desemprego, vai andar de novo, porque será a única aldeia de Portugal com um mosteiro trapista”, diz António Cangueiro emocionado.
O investimento, estimado em seis milhões de euros, será suportado integralmente pela Ordem formalmente designada "Cisterciense da Estrita Observância”, estando o lançamento da primeira pedra previsto para Maio.
A questão material não preocupa a madre da ordem religiosa, Rosaria Spreafico, que afirma ter disponível "um certo capital para poder iniciar a obra" e que, para "o muitíssimo" que ainda falta, conta com o apoio das centenas de mosteiros que existem em todo o mundo.
António Cangueiro acompanha de perto todo o processo relacionado com o mosteiro de Palaçoulo e conta à Renascença que já estão a chegar donativos para a construção. “Um dos últimos e bem significativo, chegou de França”, revela.
Albino Pera Macias, 86 anos, orgulha-se por ser o habitante mais velho e o primeiro a oferecer um terreno com 11 mil e setecentos metros. Fez a doação “com muita alegria”, porque entendeu que era para “algo grande que vai engrandecer a terra”. Desde a primeira hora diz ter contado com o apoio e até o incentivo das filhas.
“Vai ser muito importante para Palaçoulo. Nós nem somos capazes de dar valor ao que vamos ter, mas, a verdade é que vai ser muito bom para a nossa aldeia”, diz o octagenário que só deseja que “a obra comece e se conclua para poder ver” com os seus “próprios olhos”.
“Quanto mais depressa, melhor, para eu ver e para bem desta aldeia”, exclama.
O padre António Pires, pároco da aldeia, liderou todo o processo e tece rasgados elogios a todos os habitantes, principalmente ao trabalho da Fábrica da Igreja.
"Eu costumo dizer que a história não é feita de boas vontades. A história é feita das pessoas que concretizam as boas vontades”, diz o sacerdote, acrescentando que “todas as pessoas colaboraram”.
O maior desafio da carreira do arquitecto Pedro Calado
O mosteiro terá capacidade para 40 monjas. Num primeiro momento receberá apenas 10. Vai ser construída também uma hospedaria, destinada aos visitantes e turistas, e que servirá como fonte de receitas. Um grande desafio
A construção do empreendimento é o maior desafio da carreira do arquitecto Pedro Salinas Calado.
“O grande desafio passa, desde logo, por perceber o que é esta Ordem Cisterciense Trapista, perceber o carisma, o que são e o que é este compromisso de vida”, conta.
O arquitecto coordenador da equipa projectista, manifesta-se, desde logo, impressionado com “a vida destas monjas”. “Vê-se que estão mesmo a tratar de coisas de Deus. Vivem isto com uma liberdade e uma determinação que se percebe que é mesmo gente confiada a Deus”.
Pedro Calado refere ainda que “todo o processo tem sido muito ajudado, porque, independentemente das partes mais técnicas, dos desenhos, ajuda muito esta convivência com elas que, apesar de muito esporádica, é muito intensa”.
O arquitecto reconhece que o mosteiro “não é um projecto normal, é um projecto por si particular. Não está configurado dentro do que é o regulamento normal das edificações”, mas acredita que “tudo vai ser ultrapassado”.
Quem são e como vivem as monjas trapistas?
O Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja surge do Mosteiro de Vitorchiano (Itália), que pertence à Ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO) também conhecida como “Trapista”, fundada em 1098. É um Instituto de Vida Consagrada de Direito Pontifício.
No Mosteiro de Vitorchiano, em Itália, vivem “75 monjas de todas as idades, entre os 22/23 anos e para além dos 90”.
Vivem em comum “uma vida feita de oração e de trabalho; cinco horas de oração durante o dia e cinco horas de trabalho”, conta a ecónoma , acrescentando que “rezam juntas, comem juntas, dormem num espaço subdividido em pequenos quartos e trabalham juntas, em grupos de trabalho”.
Para a subsistência, a madre Fabiola Bernardi conta que produzem “compotas” e “estampagem de imagens sagradas” e têm o “trabalho de agricultura”.
“Cultivamos a vinha e fazemos o vinho, cultivamos a oliveira e fazemos azeite, cultivamos fruta e fazemos compotas”, explica.
No mosteiro, as pessoas “poderão integrar a participação na vida da comunidade, sobretudo na vida de oração. Podem entrar connosco na Igreja, num espaço separado, participar na liturgia das horas, e na liturgia eucarística”, refere a monja ecónoma de Vitorchiano.
“Às vezes, as pessoas desejam encontra-se com alguma monja, pessoas a título individual ou grupo, e têm a possibilidade de receber o testemunho da vida espiritual que a comunidade vive. Escutamos as pessoas e damos-lhe uma resposta. Muitas vezes procuram também o aprofundamento de um determinado tema. E nós fazemo-lo”, acrescenta a Madre Rosario Spreafico, abadessa do Mosteiro de Vitorchiano.
As monjas dizem-se conscientes “da secularização que a Europa atravessa, e também a Itália.”, mas acreditam que “o Senhor continua a chamar e atrair jovens”.
“Às vezes temos a pretensão de que a vocação, quando chega, já deve estar feita, já deve estar pronta. Mas, na realidade, uma vocação nunca está feita. Precisamos de ter nos mosteiros pessoas capazes de formar as pessoas, de acompanhar e fazê-las crescer, fazer crescer aquela semente, aquela intuição que a pessoa traz no coração. Há um desejo que atrai, mas deve ser desenvolvido. E este é o trabalho de uma comunidade monástica”, conclui a madre Rosario.