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Pedro Santana Lopes e Rui Rio criticaram-se abertamente, esta quinta-feira, no primeiro debate entre os dois candidatos à liderança do PSD.
Santana Lopes tentou, no frente a frente realizado na RTP, colar Rui Rio ao primeiro-ministro e líder socialista, António Costa. Chegou a dizer que Rio é "siamês" de Costa.
“Os Dupont e Dupont não somos nós os dois. És tu e António Costa”, atirou Santana Lopes, que lembrou uma carta conjunta quando Rui Rio e Costa eram autarcas do Porto e Lisboa, respectivamente. Rio respondeu que a missiva era "inócua" e que pedia mudanças na governação dos municípios.
"O teu problema é que passas o tempo a dizer mal de mim e do PSD. Até dizes que o PSD tem de mudar pelas bases, que corre o risco de desaparecer. Não tens uma palavra de crítica para a frente de esquerda", afirmou o antigo primeiro-ministro e líder do PSD.
Rui Rio respondeu que “não deve nada a António Costa” nem António Costa lhe deve alguma coisa. “ Nunca me nomeou para nada”, atirou, numa referência ao facto de Santana Lopes ter sido provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Santana perguntou se Rui Rio lhe ia pedir desculpa sobre a acusação de "trapalhadas" cometidas durante o período em que foi primeiro-ministro. Durante o debate desafiou mesmo o adversário por várias vezes a concretizar que "trapalhadas" seriam essas.
O antigo presidente da Câmara do Porto disse que "as trapalhadas efectivamente existiram". E alertou que, se Santana Lopes for o candidato do PSD a primeiro-ministro, “as trapalhadas” do passado “virão ao de cima”, numa referência ao Governo liderado por Santana, que caiu ao fim de poucos meses pela mão do então Presidente da República Jorge Sampaio.
"Então, foste meu primeiro vice-presidente no PSD e nunca me disseste isso?", questionou Santana Lopes.
O antigo autarca de Lisboa recuperou, também, uma entrevista da altura em que Rui Rio o elogiava. Rui Rio respondeu que essas declarações foram no primeiro mês do Governo, em que o relacionamento entre os dois era "positivo", "mas ao longo desses quatro cinco meses as coisas degradaram-se" e o Parlamento foi dissolvido.
"Sampaio acabou por ter razão"
Santana Lopes foi primeiro-ministro, entre 2004 e 2005, quando Durão Barroso deixou o Governo para ir para a Comissão Europeia.
Rui Rio afirma que, na altura, propôs outros nomes a Durão Barriso, mas Santana acabou por ser o escolhido para primeiro-ministro e apoiou-o por lealdade ao partido.
Rui Rio considera que o tempo acabou por dar "razão" à decisão de Jorge Sampaio, porque nas eleições seguintes o PS conseguiu a sua única maioria absoluta de sempre e José Sócrates foi eleito primeiro-ministro.
“O objectivo do líder do PSD é ser primeiro-ministro. Os militantes devem escolher o melhor candidato a primeiro-ministro. Santana teve uma experiência governativa que correu mal, muito mal. Escolher aquele que tem melhores condições de vencer António Costa é dar um passo em frente”, declarou Rui Rio.
Mais do que ideias ou conteúdos programáticos, o economista considera que aquilo que, essencialmente, o separa de Santana Lopes é a personalidade. "Julgo que aquilo que nos separa mais é que temos duas personalidades e estilos completamente diferentes", referiu.
Rui Rio não diz "jamais" a bloco central
Se for eleito secretário-geral, Pedro Santana Lopes defende que, idealmente, o PSD deve ir sozinho às eleições legislativas.
Santana Lopes excluiu “qualquer coligação com o Partido Socialista, antes ou depois das eleições”.
Rui Rio também considera que, preferencialmente, o PSD deve ir a votos sem coligações. Não afasta uma coligação com o CDS, mas acha “pouco provável”.
“Acho que o PSD deve ir sozinho. Em caso de não haver maioria absoluta, aquilo que é normal é a coligação ser com o CDS”, defendeu.
Rui Rio não encontra “nenhuma circunstância extraordinária para que seja feito um bloco central” com o PS, mas nunca “se pode dizer ‘jamais’”. Dá o exemplo de um hipotético pedido de resgate em que a troika exija um governo de bloco central.
O que defendem para o financiamento dos partidos
Os candidatos à liderança do PSD concordam que o processo de alterações à lei do financiamento dos partidos foi opaco, mas enquanto Rio se mostrou favorável ao financiamento público, Santana questionou que os contribuintes possam ser mais penalizados.
Questionados sobre que orientações darão ao grupo parlamentar do PSD, os candidatos não foram explícitos, mas deram a entender concordar com a actual formulação da lei, antes das alterações introduzidas pelo parlamento, com os votos contra de CDS e PAN, e que foram esta semana vetadas pelo Presidente da República.
"Estamos numa fase em que os portugueses suportam uma enorme carga fiscal, não me aprece aceitável que os partidos passem a ter um regime mais favorável no que depende do Estado do que tinham até aqui. Os partidos não podem ficar a receber mais dinheiro do que ganhavam", afirmou Santana Lopes, dizendo que este tema não estará entre as suas prioridades.
Rui Rio disse já ter estudado muito o assunto, sobretudo quando foi secretário-geral do PSD, e admitiu que foi sempre "muito favorável a um grande reforço do financiamento público".
"Ao dizer isto sou impopular", admitiu, defendendo o que chamou de 'orçamento de base zero' dos partidos, em que estes explicariam com transparência para onde iria o financiamento.
Rio reiterou discordar da alteração quando à isenção total do IVA, considerando que esta só se justifica quando relacionada com a actividade partidária.
"O que defendo é que o subsidio privado deve ser de tecto baixo", afirmou, dizendo discordar também da eliminação deste limite.
Já Santana disse não desconfiar à partida da natureza humana, considerando que um caminho poderá ser aumentar as sanções.
Na sua moção, Santana Lopes propõe uma desoneração progressiva do Estado do financiamento dos partidos e hoje apontou como um bom exemplo o 'crowdfunding' utilizado na campanha presidencial do anterior presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Santana e Rio querem menos impostos para as empresas
As políticas económicas para o país também estiveram em cima da mesa. Os dois candidatos concordam com redução dos impostos para as empresas.
Rui Rio defende que, ao contrário do actual Governo, é preciso “acarinhar a poupança” e avançar com políticas mais “amigas das exportações e, particularmente, do investimento”.
Para trazer investimento para Portugal é preciso reduzir a burocracia, reduzir a carga fiscal, “se possível”, a sua redistribuição e “menos impostos para as empresas”.
Santana Lopes acrescenta uma política fiscal que favoreça o regresso de jovens portugueses ao país.
“Que saia da resignação da economia dos 700 euros para os jovens licenciados. Tal como temos um estatuto fiscal para os residentes não habituais estrangeiros, que possamos ter mais estímulos fiscais para trazer os nossos jovens cheios de qualificações que estão além-fronteiras”, propõe o candidato.
As eleições para a liderança do PSD estão marcadas para 13 de Janeiro.