Discordam sobre o Chega, discutiram a sério sobre justiça. Marcelo Rebelo de Sousa e Ana Gomes mostraram este sábado, na RTP, o que os divide e também o que irrita o Presidente da República, que, notoriamente, não gostou que a antiga embaixadora levasse para o debate uma referência a Ricardo Salgado.
“A referência ao dr. Ricardo Salgado em sempre no programa. Há cinco anos dizia-se assim 'ele é amigo do dr. Ricardo Salgado, vamos ver se não vai facilitar a vida ao dr. Ricardo Salgado'. Passaram cinco anos, foi condenado em três processo movidos pelo banco de Portugal, foi finalmente acusado no processo BES. Portanto, não sei se percebe o quão ofensivo é aquilo que disse, porque disse 'interessado que é em que corra bem e se esclareça o caso do dr. Ricardo Salgado ....' Tenho o mesmo interesse em relação a todos os portugueses. Não distingo entre portugueses. Quando utilizou esse exemplo é para dizer que eu tinha um interesse especial. Eu não tenho interesses especiais”, garantiu Marcelo Rebelo de Sousa.
Ana Gomes tinha introduzido a questão da justiça no debate, dizendo que é uma das áreas em que se distingue do atual Presidente porque, se for eleita, será “absolutamente incisiva” na exigência de mais meios para a justiça.
“Olhe só para os megaprocessos, que estão completamente bloqueados”, afirmou a candidata. Marcelo interrompeu para lembrar que é contra megaprocesso.
“Então não foi eficaz”, contrapôs Ana Gomes, avançado para o ataque preparado: “Tem de haver meios de ser eficaz. Por exemplo, sei que o sr. professor, até pela sua relação de amizade com o dr. Ricardo Salgado é, certamente, das pessoas com mais interesse em que o Caso BES já tivesse sido esclarecido, que já se tivesse apurado as responsabilidades desse senhor e de muitas outras pessoas. O julgamento, sete anos depois, ainda nem começou.”
A justiça ainda continuou no debate, com Ana Gomes a querer que Marcelo tomasse posição sobre o caso Rui Pinto porque “é uma matéria que interessa à sanidade e transparência da República”.
“O sr. professor fala sobre tudo”, argumentou a candidata. “Não falo sobre tudo, quem fala sobre tudo é a sra. embaixadora. Foi assim que se trataram ao longo de todo o debate, sr. professor e sra. embaixadora.
Como se combate o Chega
Ainda antes da justiça, o debate, que começou pela questões relacionadas coma pandemia, já tinha animado com as diferentes opiniões sobre como combater o partido liderado por André Ventura, com Ana Gomes a dizer que o Presidente “não devia ter aceitado a normalização do Chega” que é o que considera ter acontecido com a aceitação do governo regional dos Açores.
Marcelo defendeu que o Presidente não pode rejeitar uma maioria parlamentar e argumento que partidos como o Chega não se combatem com a ilegalizações, nem com cordões sanitários.
“Ganha-se no combate das ideias. Não se ganha proibindo, não se ganha calando, isso é dar razão, isso é vitimizá-los, isso é encorpá-los. O que aconteceu no Capitólio aconteceu porque no debate das ideias os democratas e os republicanos moderados não ganharam durante quatro anos àquela corrente e por isso é que chegou a quase 50 por cento dos votos”, argumentou o Presidente, que aproveitou para questionar Ana Gomes porque é que não pede como cidadã a ilegalização do partido de André Ventura.
“Nunca pediu a ilegalização do partido. Foi ao Ministério Público pedir, foi?”, perguntou Marcelo. “Como o sr. professor sabe quem decide é o Tribunal Constitucional”, respondeu a candidata que tem dito em todos os debates que, caso seja eleita, pede à Procuradoria Geral da República que suscite uma verificação da constitucionalidade do Chega junto do tribunal competente.
“Como cidadã podia ir ao Ministério Público pedir, não precisa de ser Presidente qualquer cidadão podia ir lá”, esclareceu Marcelo, que discorda de um pedido de ilegalização do partido de André Ventura, também ele candidato presidencial, com quem Ana Gomes debate na sexta-feira e Marcelo na quarta.