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A pandemia do novo coronavírus pode colocar na pobreza 45 milhões de pessoas que atualmente integram a classe média na América Latina e Caraíbas, considerada a região com mais desigualdades no mundo, alertou hoje a ONU.
“Num contexto de desigualdades já gritantes, de taxas elevadas de trabalho informal e de uma fragmentação dos serviços de saúde, as populações e as pessoas mais vulneráveis são, uma vez mais, as mais afetadas", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, num comunicado.
Com mais de três milhões de infetados com o novo coronavírus, dos quais mais de metade registados no Brasil, a região tornou-se neste momento o epicentro da pandemia da doença covid-19.
A par do Brasil, os outros países mais afetados são o México, Peru e Chile.
Segundo o secretário-geral da ONU, que divulgou hoje um documento dedicado às consequências da pandemia na América Latina e Caraíbas, a quebra do Produto Interno Bruto (PIB) nesta região em particular será na ordem dos 9,1%, o pior valor em um século.
A organização internacional realçou que o impacto económico será devastador, lembrando que a pandemia atingiu a região após sete anos de um crescimento económico lento e num cenário em que persistem desigualdades profundas, com milhões de pessoas sem cobertura de cuidados de saúde ou sem acesso a água potável.
As Nações Unidas anteveem que a taxa de pobreza nesta zona do mundo aumente 7% este ano, mais 45 milhões de pessoas, para um total de 230 milhões de pobres, o que representa 37,2% da população total que vive nos países da América Latina e Caraíbas.
Os níveis de pobreza extrema na região também vão aumentar, cerca de 4,5% (na ordem das 28 milhões de pessoas), elevando para 96 milhões o número de pessoas que vivem em condições extremamente precárias.
Este valor representa 15,5% da população total da região.
Estas pessoas vão estar “em risco de fome", afirmou, em declarações à comunicação social, Alicia Barcena, uma responsável da ONU citada pelas agências internacionais.
Para enfrentar a crise e ajudar esta população, a organização internacional defende que os governos devem fornecer um rendimento mínimo de emergência e subsídios contra a fome.
Nesta região em particular, e segundo as contas da ONU, o valor médio mensal a atribuir por pessoa deveria rondar os 140 dólares (cerca de 123 euros).
Ainda no comunicado hoje divulgado, António Guterres apelou à comunidade internacional para que "forneça liquidez, uma assistência financeira e um alívio da dívida" aos países da região da América Latina e Caraíbas.
Desde que o novo coronavírus foi detetado na China, em dezembro do ano passado, a pandemia da doença covid-19 já provocou mais de 549 mil mortos e infetou mais de 12 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço mais recente feito pela agência France-Presse (AFP).