O PCP alertou que a "democracia está sob a ameaça" do fascismo e da falta de concretização de direitos e considerou que o Governo não pode celebrar o 25 de Abril enquanto deixa "degradar as condições de vida".
Discursando na sessão solene comemorativa do 49.º aniversário do 25 de Abril, no parlamento, o deputado do PCP Manuel Loff considerou que, da Revolução dos Cravos, "saiu uma das mais arrojadas democracias do mundo".
"Praticamente meio século depois do 25 de Abril e das melhores esperanças que nele depositaram milhões de portugueses, milhões de democratas por todo o mundo que sentiram a nossa Revolução como sua, a democracia está sob ameaça", alertou Manuel Loff na sessão.
Na opinião do deputado do PCP, essa ameaça à democracia ocorre "em todos os lugares, a começar por Portugal", onde não se cumprem "as naturais justíssimas, expectativas de quem espera que a democracia seja sempre acompanhada de bem-estar e justiça social", do direito à saúde, educação, habitação, trabalho com direitos e garantias, uma infância feliz ou uma velhice com dignidade e qualidade de vida.
"Sempre que algum ou todos estes direitos se não concretizam nas nossas vidas, alimenta-se a descrença na democracia e esta estará sempre ameaça", sustentou.
Com os membros do Governo a ouvi-lo, Manuel Loff criticou diretamente o executivo, salientando que quem tem responsabilidades executivas não pode "comemorar o 25 de Abril, a Revolução e a democracia e ao mesmo tempo deixar degradar a condição de vida dos portugueses".
Quem tem responsabilidade executivas não pode comemorar o 25 de Abril "depois de se terem enterrado incontáveis recursos públicos no apoio aos grandes grupos económicos e financeiros ou a cativar dinheiro do Estado, de todos nós, para lograr as chamadas "contas certas", as mesmas que nunca estarão certas sem se assegurar condignamente o funcionamento dos serviços públicos de que se faz para todos nós a democracia no dia a dia", acrescentou.
No entanto, o deputado do PCP salientou que a ameaça à democracia se faz também "pelo fascismo", acrescentando que "é ilusório" julgar que "o assalto da extrema-direita fascista está a fazer ao poder deixa incólume a democracia".
"Importa, pois, que quando se celebra a democracia e a liberdade não se desvalorize o significado desta ameaça, trivialize a mentira, a manipulação, o racismo, o branqueamento dos crimes e da violência fascista e colonial do passado, o oportunismo descarado ao fingir defender-se hoje o que no passado sempre se rejeitou", frisou, recebendo aplausos da bancada do PCP e do BE.
Neste ponto, Manuel Loff aludiu à situação no Brasil, saudando os "democratas brasileiros", incluindo o atual Presidente, Luiz Inácio "Lula" da Silva, pela sua luta para "derrotar o que foi a maior ameaça, absolutamente real, contra a democracia brasileira desde o fim da ditadura civil-militar".
Dirigindo-se depois diretamente aos cidadãos portugueses e a quem constrói o seu futuro em Portugal, o deputado do PCP sublinhou que o 25 de Abril foi feito por "gerações de resistentes, e os comunistas em primeiro lugar", que deram "o melhor de si, e tantas vezes a própria vida", para conseguir "liberdade, direitos, uma sociedade justa".
"O 25 de Abril tem agora de continuar a ser feito por nós, por quem acredita nesses valores que permanecem, sabemo-lo hoje melhor do que nunca, a solução para os problemas estruturais do nosso país", vincou.
Manuel Loff salientou que, "as multidões que saem por estes dias à rua", fazem-no "com a força inesgotável dos valores de Abril" e recordando "que não há democracia sem justiça social".
"A Grândola de Zeca Afonso, a "terra da fraternidade" onde "o povo é quem mais ordena" tem de ser cada uma das nossas cidades e aldeias de um país verdadeiramente democrático", concluiu.