58 milhões dizem "sim" a Bolsonaro. As eleições brasileiras à lupa
29-10-2018 - 10:55
 • Rui Barros

Com resultados apurados, a escolha dos brasileiros é inequívoca. Jair Bolsonaro é o próximo Presidente do Brasil. Mas os números do sufrágio revelam muito mais do que o próximo inquilino do Palácio do Planalto. Olhamos para os números.

57.797.456

Na segunda volta, os brasileiros foram chamados a escolher entre Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) e os números não deixam dúvidas: 57 797 456, ou 55,1% dos eleitores, escolheram o líder do partido de extrema-direita.

Fernando Haddad, que ficou em segundo lugar na primeira volta, não foi além 47 040 819 votos - ou 44,9%.

O Partido Trabalhista é o grande derrotado, depois de quatro vitórias consecutivas nas presidenciais.


Virou. Mas foi só um Estado

Depois de o PT ter conseguido apenas 29,28% dos votos na primeira volta, o objetivo de Fernando Haddad era claro - virar o resultado e convencer o Brasil de que era o homem certo para suceder a Temer.

Mas três semanas de campanha não chegaram e, contados os votos, só o Estado de Tocantins se deixou convencer pelo candidato do PT. Na primeira volta, neste estado, 44,6% dos votos eram de Bolsonaro, contra 41,1% de Haddad. Na segunda volta, Haddad venceu com 51,02%.

Mas se só virar um estado pode soar a mais uma má notícia para o PT, o cenário fica mais animador se mudarmos o foco geográfico. Olhando para as cidades, 117 em 142 "viraram a casaca" a favor de Haddad.


103 municípios. O legado de Ciro

Ciro Gomes, o candidato do PDT (centro-esquerda) que ficou em terceiro lugar na primeira volta, tem sido fortemente criticado por não ter apoiado Haddad na “luta” contra Bolsonaro. Mas, se olharmos para os números, a verdade é que o PT não parece ter precisado desse apoio - pelo menos nos municípios de Ciro.

O PT ‘herdou’ os 103 municípios conquistados por Ciro na primeira volta. Nesta lista incluem-se uma cidade na Paraíba, 10 no Rio Grande do Norte e 92 no Ceará - berço político de Ciro.


42,1 milhões disseram ’não vai ter voto’

Ao todo, 31.1 milhões de brasileiros elegíveis para votar decidiram não comparecer às urnas - o equivalente a 21,2% do total de eleitores, num país onde o voto é obrigatório.

Se somarmos os votos nulos e as abstenções, 42,1 milhões de eleitores decidiram não escolher nenhum candidato.


Em Portugal, mais de 60% 'são' Bolsonaro

Jair Bolsonaro foi o mais votado pelos imigrantes brasileiros em Lisboa. O candidato de extrema-direita teve 4.475 dos 6.948 votos válidos, ou seja, 64,4%. Fernando Haddad, teve 2473 votos - 36,6%.

No Porto, a vitória do militar na reserva foi ainda mais expressiva - conseguiu 66,5% dos votos dos 4700 eleitores do Porto.


Estados Unidos e Japão com Bolsonaro. Berlim, Frankfurt, Palestina e Cuba com o PT

Somados todos os votos no estrangeiro, o presidente eleito venceu com 70,98% dos quase 185 mil votos válidos, contra 29,02% de Fernando Haddad.

O candidato do PSL venceu - com folga - no Japão e nos Estados Unidos. Para Haddad, a maior percentagem foi conquistada em Ramallah, na Palestina, Havana, em Cuba, e Berlim e Frankfurt, na Alemanha. Paris e Moscovo também escolheram o PT.

Feitas as contas, das 133 cidades no exterior onde se poderia votar nas eleições brasileiras, 104 disseram sim a Jair Bolsonaro.


12 vezes governo, 11 vezes Brasil. O discurso de Jair Messias Bolsonaro

Se é dos que dá importância às palavras, as do discurso de vitória de Bolsonaro podem dizer muito sobre o próximo presidente brasileiro. Bolsonaro disse 12 vezes ‘governo’, 11 vezes ‘Brasil’, 10 vezes ‘nosso’.

‘Liberdade’, que Bolsonaro jurou proteger a todo o custo, foi mencionada 9 vezes.


Uma

Das 27 unidades federativas que compõe o estado brasileiro, apenas uma será dirigida por uma mulher. Fátima Bezerra, do Partido Trabalhista, assume os destinos do Rio Grande do Norte. No total, eram 30 mulheres a correrem pelo cargo de governadora.

O Brasil repete os números de 2014 em termos de igualdade de género, depois de em 2006 ter atingido o valor máximo de mulheres governadoras - três.