Foi com surpresa que Eduardo Brito recebeu o convite do produtor Paulo Branco para pôr em filme um dos livros mais icónicos da escritora Agustina Bessa-Luís. “A Sibila” estreia esta quinta-feira nas salas de cinema, na semana em que terminam as comemorações do centenário da escritora.
Protagonizado pelas atrizes Maria João Pinho e Joana Ribeiro, o filme dá corpo aos silêncios e aos “interstícios da alma” que Agustina põe na escrita, diz o realizador em entrevista ao programa Ensaio Geral, da Renascença.
Eduardo Brito considera que estrear este filme, numa altura em que se celebra o centenário da autora, é fazer-lhe “justiça”. O realizador considera que a “disseminação e difusão da sua obra é importante”.
“É importante que as pessoas leiam Agustina e desmistificam um bocadinho a figura. Esta imagem de uma figura inacessível, de uma escrita encriptada, é uma questão de abrirmos o nosso coração e espírito à palavra”, afirma.
Na opinião do realizador, que leu e releu toda a obra de Agustina, a autora é “alguém de uma dimensão filosófica muito forte, com vocação e com um dom”. A este dom, Eduardo Brito acrescenta ainda a “ironia e um humor muito finos” de que gosta particularmente. O cineasta afirma que Agustina foi uma “revelação das boas, daquelas que ficam para a vida”.
Questionado sobre a leitura de “A Sibila”, Eduardo Brito recorda que “era uma leitura muito antiga, era muito miúdo quando li o livro pela primeira vez”, mas depois do desafio de Paulo Branco lançou mãos à obra.
“Até começar a abrir a página em branco, e escrever a primeira cena devo ter lido o livro para aí quatro ou cinco vezes. Preenchi dois ou três cadernos de anotações, porque eu ainda escrevo muito à mão”. Depois disto, o realizador perdeu a conta às vezes que leu e releu o livro, até se tornar, nas suas palavras “muito amigo dele” e quando já “sabia quase palavra a palavra”.
A preparação para o filme passou também por ler outras obras de Agustina, ver todos os filmes que têm por base a sua obra e visitar locais que fazem parte da história de “A Sibila”. Eduardo foi “sem tempo para vir embora para entender as neblinas e as cores”.
Questionado sobre como se sente perante o facto de Manoel de Oliveira ter sido um dos realizadores portugueses que mais filmou obras de Agustina, Eduardo Brito diz que não deixou “que isso fosse um peso, bem pelo contrário, quis sempre que fosse leveza”.
“Eu estava a escrever o guião de 'A Sibila' com os gigantes todos, em cujos ombros caminho, o [Manoel de] Oliveira, naturalmente, o João Botelho, a Rita Azevedo entre outros cineastas que também são grandes influências para mim”, refere.
Além das atrizes Maria João Pinho e Joana Ribeiro, o filme conta também com os atores Raimundo Cosme, Simão Cayatte, Sandra Faleiro, João Pedro Vaz, Diana Sá, Emília Silvestre, Ricardo Vaz Trindade, Marcello Urgeghe, Madalena Aragão, Rui Neto, Dinis Gomes, Rita Martins, Gustavo Sumpta, Valdemar Santos, Mariana Costa, Ricardo Lagartinho Lopes; e a participação especial de Ana Padrão.