Uma época que terminou com 17 jogos sem perder, apenas nove golos sofridos e um campeonato inteiro sem perder fora. O Lusitano de Évora não perde desde 12 de novembro e tem a defesa menos batida da Península Ibérica.
Bola Branca foi conhecer o homem por detrás do feito do clube alentejano, João Nivea.
O treinador de 33 anos está de saída do clube após duas épocas a terminar no pódio da série D do Campeonato de Portugal, um feito impressionante de uma equipa acabada de subir da distrital.
Como se construíu ao longo da época este o acumular de tão poucos golos sofridos?
Fomos jogando, a nossa preparação é um bocadinho individualizada e específica para cada jogo, fomos tendo os primeiros jogos do Campeonato, foi aparecendo a Taça de Portugal e as coisas foram acontecendo. Tínhamos feito uma análise e tínhamos percebido que tínhamos muita Juventude na metade defensiva da equipa e que, se fossemos buscar jogadores um bocadinho mais experientes e com um bocadinho mais de qualidade poderíamos elevar o nosso jogo a uma dimensão diferente e foi isso que aconteceu e acabámos por ir criando este registo.
Os números foram andando e fomos percebendo que efetivamente era muito difícil marcarem golos à nossa equipa. Nós tínhamos feito uma equipa para tentar a manutenção, andando na parte superior da tabela classificativa e salvo, raras exceções, oscilamos muito pouco entre o terceiro e quarto lugar e finalizámos no terceiro.
Feitas as contas, nós tivemos uma média de golos sofridos de 0,32 por jogo, sendo que a mais próxima desde que há Campeonato de Portugal foi o Trofense, no ano em que subiu de divisão, com 0,46 por jogo. Portanto, é fantástico e, nos 28 jogos oficiais que fizemos, em 20 deles não sofremos golos.
Se tivesse de apontar um aspeto que considere mais importante para este registo defensivo, o que classificaria como mais importante?
Eu acho que acaba por ser um pouco uma sopa, em que cada questão é um ingrediente. A projeção do plantel, a escolha e contratação dos jogadores é um fator importante no pré-trabalho. Depois temos a questão da projeção de cada jogo, a análise e o planeamento estratégico para cada jogo e, por fim, é o operacionalizar disto tudo, que é o trabalho diário com os jogadores em que colocamos em prática a nossa estratégia.
Segundo lugar na época passada, terceiro neste. O que reserva o futuro?
Quando esta história começou, o Lusitano tinha acabado de subir e foram contratar-me para tentar profissionalizar um pouco o clube, estruturar logisticamente a nível de departamentos no futebol sénior, ganhar aqui algum profissionalismo e tentar a manutenção.
O que se sente, a nível do clube, é que quer andar mais para a frente e acho que os objetivos das pessoas são de continuar a progredir. A nível pessoal, o treinador João Nivea também foi um ciclo de dois anos, muito desgastante e também quero andar mais para a frente.
João não continua no clube para a próxima temporada…
Nós tínhamos mais um ano de contrato, mas acabei por falar com o presidente e explicar que a gostava de sair por cima, gostava de deixar o clube por cima e por fim a um casamento perfeito.
Acaba por ser um desfecho que é bom para ambas as partes, o clube vai continuar a procurar profissionalizar-se, andar para a frente e saltar divisões, e eu vou esperar que o telefone toque.
Qual é o objetivo para o próximo projeto?
Eu não acho que seja um treinador de divisões. Eu sou treinador de futebol, sou jovem, não faço mais nada e é difícil ser profissional de futebol nos escalões secundários em Portugal, pelo que não temos de ser treinador de divisões
Há uns anos o Campeonato de Portugal era o terceiro escalão em Portugal. Atualmente, da Liga 3 para o Campeonato de Portugal há aqui uma filtragem muito grande a nível qualitativo e de exigência, mas eu acho que efetivamente o meu foco será andar uma divisão para a frente.
Vou esperar pelo desfecho da Liga 3 e esperar por possíveis conversas que possam existir. Não excluo o Campeonato de Portugal, mas apenas depois de perceber o que irá acontecer na Liga 3 e se for um projeto para subir de divisão.
Quais são os principais desafios de tentar viver apenas de ser treinador nos escalões inferiores?
No meu caso específico, eu licenciei-me numa área que não tem nada que ver com desporto, nem com futebol. Tirei Relações Públicas.
A paixão por ser treinador de futebol fez com que enveredasse por este caminho profissional e, portanto, logo aí, a paixão tem de existir. Têm de ser pessoas que tenham muita paixão, porque nós não temos as condições que se tem no topo, embora isso também seja algo que nos prepara.
Acho que começar por baixo é fundamental, porque vamos ter realidades diferentes. Acho que isso é todo um processo evolutivo e de aprendizagem, sendo sempre balizado pela paixão, porque, a nível financeiro, não se praticam valores muito altos.
Acho que necessário muita perseverança, muita dedicação, muita paixão e esperar que o nosso momento apareça.
É costume dizer-se que no futebol não há horários e isso recorda-me aquela célebre frase do Diego Simeone no documentário dele, em que ele está com a família no cinema a descomprimir, mas está a olhar para o filme a pensar se metia o João Félix mais à direita, mais à esquerda ou no centro de terreno. Portanto, é viver 24 horas por dia o futebol. Eu acho que o caminho é por aí.