PRR: Portugal tem projetos de transição ecológica mal avaliados
11-09-2024 - 16:13
 • Lusa

Outro problema com a transição climática no PRR português são os prazos dos projetos de produção de hidrogénio, notando a auditoria que em julho de 2023 apenas um dos 23 aprovados tinha recebido um adiantamento para iniciar os trabalhos.

Em Portugal, há projetos no pilar da transição ecológica desenvolvidos no âmbito do Programa e Recuperação de Resiliência (PRR) que foram mal avaliados, segundo um relatório do Tribunal de Contas Europeu (TCE), divulgado esta quarta-feira.

No relatório "Transição ecológica -- Contributo pouco claro do Mecanismo de Recuperação e Resiliência" (MRR), o TCE audita seis projetos em Portugal e também noutros três Estados-membros -- Croácia, Eslováquia e Grécia -- tendo selecionado, no país, as áreas do hidrogénio renovável, eficiência energética de edifícios residenciais, ampliação da rede de metropolitano de Lisboa, descarbonização da indústria, programa florestal e bioeconomia sustentável, previstos no PRR.

Em fevereiro de 2024, o contributo climático do MRR foi revisto para um montante de 275 mil milhões de euros (42,5% das dotações do MRR) de um total de 648 mil milhões de euros, representando em Portugal uma verba de 9,1 mil milhões de euros.

Segundo o relatório, a medida de promoção de hidrogénio e de outros gases renováveis em Portugal ascende a 255 milhões de euros do MRR, financiando 277 megawatts de potência adicional para produzir hidrogénio a partir de fontes de energia renováveis.

Os auditores alertam ainda que, em Portugal, houve projetos de renovação energética de edifícios que foram inicialmente subavaliados e acabaram por custar dez vezes mais do que o previsto.

Também em Portugal e nos outros três Estados-membros avaliados houve coeficientes climáticos incorretamente atribuídos e que levaram a um financiamento do Mecanismo de Recuperação e Resiliência acima do que o TCE considera adequado.

Um exemplo identificado em Portugal foi o de uma medida florestal de adaptação às alterações climáticas que financiou os projetos de arquitetura e as obras de renovação de centros de proteção civil em zonas rurais e os auditores defendem ter sido concedido incorretamente um coeficiente de 100%, defendendo que estas despesas têm apenas uma relação moderada com a adaptação às alterações climáticas.

Outro problema com a transição climática no PRR português são os prazos dos projetos de produção de hidrogénio, notando a auditoria que em julho de 2023 apenas um dos 23 aprovados tinha recebido um adiantamento para iniciar os trabalhos.

Todos os Estados-membros cumpriram, na fase de planeamento, a meta de canalizar pelo menos 37% do PRR destinado para a ação climática, com Portugal a chegar aos 40%, abaixo da média de 42,5% da UE.

Entre as recomendações de hoje, o TCE destaca que a Comissão Europeia deve "avaliar de que forma os instrumentos de financiamento que visam metas e objetivos climáticos da UE podem facultar informações sobre o seu contributo efetivo para os alcançar".

Por outro lado, devem ser também reunidas e publicadas as informações já facultadas pelos Estados-membros sobre os custos reais das medidas relacionadas com o clima, "compará-los com os custos estimados nos planos nacionais e recalcular o contributo climático efetivo para alcançar a meta de 37%.

Bruxelas deve ainda assegurar que as medidas, intervenções ou ações relacionadas com o clima sejam subdivididas a um nível que permita associá-las ao contributo climático adequado e justificável, o que resultará numa avaliação mais pormenorizada e precisa das despesas neste domínio.

O TCE conclui que a Comissão deve assegurar uma avaliação mais pormenorizada e precisa das despesas, destacando ainda que os coeficientes climáticos do regulamento MRR não refletem o contributo esperado para as metas climáticas da UE.

O MRR é o pacote de financiamento especial, no valor de 700 mil milhões de euros, disponibilizado pela UE na sequência da pandemia de covid-19 e consiste numa combinação de empréstimos e subvenções. .

Os Estados-membros que recebem as verbas elaboram planos de recuperação e resiliência que estabelecem marcos a alcançar e a estimativa dos respetivos custos, contribuindo para o objetivo da UE de alcançar emissões líquidas nulas de gases com efeito de estufa até 2050. .