Francisco Camacho é líder da Juventude Popular desde 2021. Acompanhou a campanha de Francisco Rodrugues dos Santos que resultou na saída do CDS-PP do parlamento e agora vê como nova oportubidade o regresso do partido à AR depois da vitória nas eleições deste ano.
No 31º Congresso do CDS apresenta uma moção que defende a mudança de linguagem do partido para que chegue aos mais jovens e mais medidas que assegurem o futuro.
À Renascença, recorda as dificuldades dos últimos dois anos e reafirma que o rejuvenescimento do partido poderá partir de mais aposta nas redes sociais à semelhança do que é feito por outros partidos de direita.
O Francisco era líder da JP quando o CDS deixou o Parlamento. Como é que se sente com este regresso?
Nós passamos por um período difícil, por um período que exigiu da nossa parte a maior firmeza e compromisso com o partido. Hoje o que sentimos é uma realidade diferente, onde reconsideramos e voltamos a ter ferramentas políticas que eram muito importantes para a nossa ação. Portanto, sobretudo a Juventude Popular sente-se concretizada.
Por um lado, porque viu parte do seu propósito cumprido, ou seja, restabelecer o CDS na primeira linha da cena política nacional e em segundo lugar e porventura ainda mais importante que isso, concretizados porque temos sobre as nossas mãos, oportunidade de influenciar a governação quer pela Assembleia da República, quer também pelos nossos representantes no Governo nacional e isso é algo tremendamente importante para uma organização que quer representar efetivamente a juventude portuguesa, que quer dar rumo, que quer imprimir pujança e que acredita que Portugal pode ser muito mais do que tem sido nos últimos 8 anos.
No Congresso foi defendido que o partido se tem de modernizar para chamar mais jovens. O que é que é preciso fazer?
O CDS é um partido antigo, mas é um partido que não deve ficar só a pensar na sua história e tem que olhar para o amanhã, para o presente e perceber que hoje a política nacional e internacional se faz de outras formas, há outras realidades.
Os métodos convencionais são necessários para um certo público, mas há um público das novas gerações que é preciso cativar e isso faz-se primeiro com muito trabalho e depois com um trabalho eficaz que eu acho que terá que por um lado, ter bandeiras importantes quando falamos, por exemplo, da sustentabilidade - temos que ter inteligência para perceber que as novas gerações estão extremamente despertas para este assunto, mas que essa sustentabilidade tem que ser responsável e que também deve pôr os jovens a discutir, por exemplo, o nosso modelo de Estado social. Que segurança social é que a minha geração e a geração seguinte terá?
E depois, por outro lado, para além do tema das bandeiras e dos métodos, parece-me que é sempre importante um partido que quer ser representativo de toda a sociedade portuguesa, que haja protagonistas de várias faixas portanto, também é posicionamento da JP, que o CDS deve ter um contínuo e não uma rotura geracional. Um contínuo renovar geracional dos seus protagonistas, onde os nossos mais qualificados e aqueles que mais têm trabalhado em torno do propósito do CDS tenham uma oportunidade de representar as preocupações da população nos fóruns e nos órgãos que o CDS tem.
Fala dessa renovação contínua que é necessária. Como é que está neste a saúde da JP?
A saúde da JP está bem. Nós mantivemos a nossa atividade política, apesar do CDS ter saído do parlamento, portanto, agora o CDS no parlamento permite que a nossa vitalidade aumente e estamos muito confiantes para os desafios que se seguem muito em concreto. O tema das eleições europeias é uma das matérias que está no nosso calendário e que vai medir muito do que pode ser o nosso contributo para a vida do país e das novas gerações. O Parlamento Europeu é extremamente decisivo em matérias cruciais para as novas gerações, na mobilidade, infraestruturas e transportes, na mobilidade social, temas regulatórios, temas ligados à nossa saúde e bem-estar, temas relacionados com o tópico da sustentabilidade, uma matéria decisiva como a questão da defesa no contexto europeu, o contexto dos fluxos migratórios, das imigrações e de como é que o projeto europeu pode ser reformado são tremendamente apelativas para que nós tenhamos uma palavra nestas próximas eleições europeias.
Estamos confiantes que aquilo que venha a ser o próximo representante do CDS no Parlamento Europeu possa honrar o legado que foi deixado pelo Presidente do partido, mas também olhas para o que são as necessidades mais urgentes das novas gerações no presente, que não se confundem com o que eram as novas gerações há 10, 20 anos. Hoje a realidade é totalmente diversa e o CDS tem aqui neste Congresso a oportunidade de demonstrar que é um partido que, apesar dos seus 50 anos de história, se consegue adaptar ao presente e dar uma nova aragem à política.
Quantos jovens tem a JP? Houve alguma queda ou saída de jovens nestes dois últimos anos para outros partidos da direita?
Nós não ignoramos de todo o que é o trabalho de outras plataformas e de outros partidos que objetivamente concorrem com o CDS, com a Juventude Popular.
Mas houve essa perda de jovens para os outros partidos?
Nós não temos uma perda estrutural significativa de militantes para os outros partidos, o que vimos e assumimos com todo o realismo foi durante este período uma maior dificuldade na angariação de novos membros e não tanto na questão da retenção. Aliás, eu acho que a maior parte dos militantes da Juventude popular e grande parte dos militantes do CDS sobre esse ponto de vista foram de uma enorme fidelidade ao partido e à estrutura, demonstraram que havia uma nova oportunidade a dar ao CDS e às novas gerações que queriam demonstrar com estas novas eleições, que aquele resultado de 2022 tinha sido pontual e que esse não era o verdadeiro desejo dos portugueses.
Portanto, chegados aqui estamos obviamente confiantes do que foi esta dificuldade na atração de novos quadros e vamos virar a página.
Já estamos com sinais disso, temos novos militantes a juntar-se neste Congresso temos mais de 150 congressistas. 110 deles eleitos pela estrutura da Juventude Popular, outros 40 eleitos pela estrutura do partido. Os nossos números oficiais fixam 15000 militantes da Juventude Popular temos uma renovação urgente a fazer e estamos comprometidos que isso será bastante possível.
Fala-se muito na aposta nas redes sociais, que os novos partidos de direita dominam. Tendem a seguir também esse modelo?
Hoje a democracia também se faz no digital.
É verdade que a democracia digital tem os seus riscos, tem os seus pergaminhos, mas é uma realidade e nós estarmos fora dessa plataforma seria um erro completo. Nós estamos presentes no circuito das redes sociais, percebemos que há uma linguagem que se transformou. Eu também disse isso da minha intervenção.
Temos de ser capazes de compreender que mais do que falarmos sobre o nosso passado. A última governação do CDS esteve presente entre 2011 e 2015, estamos a falar de uma realidade muito distante. Para um novo eleitorado, que já teve possibilidade de participar nestas eleições legislativas e que será chamada a votos nas próximas eleições europeias, quando aconteceu o pedido de ajuda junto da troika feito por Sócrates, estes eleitores estavam na primária. Portanto, é uma realidade tremendamente distante e hoje estão super predispostos ao consumo de conteúdos políticos, mas através de plataformas como o TikTok, como o Instagram, como o próprio X e nós estamos focados numa estratégia que tem que ter esse método e que tem que estar presente nessas plataformas. Não pode prescindir do essencial da política, que é o conteúdo e a capacidade de intervenção.
“Assegurar o futuro” é o lema da Moção que apresentou. O que é que é mais urgente neste momento?
A maior carência atual do sistema político português e, por consequente, da sociedade portuguesa é a fuga das novas gerações que se veem condenadas a emigrar para poder ter um cenário de melhoria da sua qualidade de vida, para terem uma perspectiva de projeção no elevador social e isso acontece porque nós temos baixos salários, temos uma carga fiscal muitíssimo elevada para o nosso nível de rendimentos e, portanto, foi com contentamento que a Juventude Popular viu inscrito no programa não só eleitoral da AD, mas no Programa do Governo respostas consideráveis.
Um ato para uma reforma no acesso à habitação, nós defendemos que deve haver um direito à habitação que se consolide também com a oportunidade das novas gerações terem acesso ao direito à propriedade e, em sentido comum, uma transformação económica, possibilite um aumento de rendimentos e isso faz-se pela capacidade de atração de investimento, seja ele estrangeiro ou não, mas investimento na nossa economia que os empresários são aliados da sociedade portuguesa e não são inimigos e que são eles os principais responsáveis por uma transformação em matéria de política salarial. E, por esse sentido, acho que também foi da maior felicidade o compromisso de um 15º mês, portanto, um prémio bónus, correspondente a um salário estar isento de tributação. Eu acho que essa é uma medida muito concreta que no imediato pode permitir às novas gerações que, tendo rendimentos, podem ficar e ser bem-sucedidos em Portugal.
Porque é que acha que agora os jovens estão todos a fugir para os partidos de direita, como a IL e Chega?
O CDS pode efetivamente afirmar-se como um partido que preenche esse espaço.
Há outros partidos que são mais recentes que tiveram até às vezes propostas lado a lado com o Partido Socialista ou até mais à esquerda que o próprio Partido Socialista. É evidente que nós não ignoramos que há uma mensagem que pode ser sedutora, pode ser um canto de sereia, prometer muitas facilidades. Ainda assim, estou plenamente convencido que este Governo da Aliança Democrática, com os instrumentos que tem à sua disposição de governação e de um clima económico que não é de recessão, poderá cumprir as grandes expectativas das novas gerações. Recordo que nestas eleições legislativas a AD foi a força política mais votada entre os mais jovens e nós queremos ter um cenário reforçado, maioria parlamentar, precisamos que seja quando vier um novo cenário de eleições legislativas, esperamos que não antecipadas.
Nós queremos ter um cenário maioritário, mas temos que compreender e percebemos obviamente que há uma adaptação ao novo contexto político.
Acredita que AD chega ao final da legislatura ou acontece aquelas eleições antecipadas de que falava agora que esperava que não acontecessem?
Nós sabemos que não temos maioria absoluta no Parlamento.
Estou confiante que no que depender dos protagonistas quer do CDS, quer do PSD, incluindo os independentes, que são chamados a colaborar no quadro do Parlamento e no quadro do governo nacional, que tudo fará para que esta legislatura seja completa, mas sabemos que não depende exclusivamente de nós.
Agora também sabemos uma coisa com toda a confiança, os portugueses e as novas gerações em Portugal não são tontas e estão muito atentas ao que são as decisões dos partidos e sabem quem pode contribuir para lhes melhorar a qualidade de vida do país ou aqueles que querem só o poder pelo poder e boicotar a governação. Queremos levar este mandato até ao fim, agora não temos medo de ir a eleições e sabemos que a resposta que a AD tem apresentado é manifestamente apelativa e que será um governo muito capaz de representar as novas gerações e o futuro de Portugal.