A tradição mantém-se. A cada campanha a descida do Chiado, no coração de Lisboa, está no roteiro dos partidos. Nem todos os comerciantes da zona acham piada. Queixam-se do barulho e dizem até que serve apenas para preencher telejornais.
A Praça Luís de Camões é o ponto de partida, o Rossio o destino. A descida do Chiado é uma tradição nas campanhas eleitorais.
António Lemos trabalha há 70 anos na Casa Pereira, uma loja de chás e cafés, das mais antigas da zona. “Já vi muitos e ainda quero continuar a ver. Muitas das pessoas que passam aí, vêm cá visitar-nos”, recorda. “Eles passam e deixam ficar alguma propaganda. De vez em quando entregam uns papéis. E leio, gosto de ler.”
Apesar de gostar da agitação em cada descida, António Lemos não é dado à política. “Sinceramente não sou apreciador disso, não são coisas que goste muito. Eu não tenho partido nenhum. Gosto de todos, mas não tenho partido nenhum. Sou adepto de todos eles”, sublinha.
Ao descer mais um pouco, já na Rua do Carmo, ouvem-se as primeiras críticas. “Não vale a pena fazer queixas. Cumprimenta-se sempre as pessoas como deve ser. Aqui não é bom para as lojas, não é bom para o comércio. Se for perguntar a qualquer loja vai dizer isso. Ainda por cima nesta rua que é muito estreita. É confuso, porque é muito barulho”, diz Milene Filipe, funcionária de uma sapataria.
O som do fado entoa pela rua e é de onde ela vem que surgem novas críticas. Nuno Samora está dentro da famosa carrinha com CDs de fado e assiste em lugar de destaque a cada descida. “É muito ruido, é muito barulho. Alguns vêm aqui cumprimentar, mas há outros que ignoram isto completamente. Olham só para cima, para as varandas.”
Por estar neste lugar privilegiado, Nuno Samora consegue avaliar que as decidas do Chiado já foram mais concorridas. “De quatro em quatro anos, eu acho que tem menos impacto”.
“Lembro-me do Cavaco Silva, quando ganhou a duas maiorias como primeiro-ministro, era um mar de gente que aquilo nunca mais acabava. Nunca tinha visto nada assim. Depois a primeira vez com José Sócrates, quando se candidatou a primeiro-ministro, não posso deixar de dizer que também foi uma coisa em grande. Tirando esses dois eu não me recordo de ver assim arruadas enormes”, recorda.
Quanto ao objetivo das descidas do Chiado, Nuno Samora fala mesmo em folclore. “Ninguém vota nos partidos, as pessoas votam nas pessoas e não em partidos. Isto é só para preencher telejornal. Eles têm de dar notícias. E é para a comunicação social ver”, remata.