O Papa Francisco considera que a Igreja "não está preparada para o Concílio Vaticano III". Em entrevista à revista católica espanhola "Vida Nueva", o Papa recorda que ainda é preciso colocar em prática o concílio anterior.
"A coisa não está madura para o Concílio Vaticano III. E também não é necessário neste momento, já que o Vaticano II ainda não foi cumprido. Foi muito arriscado e é preciso colocá-lo em ação. Mas há sempre o medo que nos contagiou a todos por parte dos 'velhos católicos', que já no Vaticano I se autodenominavam como 'depositários da verdadeira fé'. É importante sair ao encontro dos sofismas", diz Francisco.
"O Sínodo era o sonho de Paulo VI. Quando o Concílio Vaticano II terminou, ele percebeu que a Igreja no Ocidente tinha perdido a dimensão sinodal. Por isso, criou o Secretariado do Sínodo dos Bispos. Terminados os 50 anos, saiu aquele documento assinado por mim, que preparei junto com um grupo de teólogos, no qual está clara a doutrina sinodal", diz o Papa nesta entrevista com que a revista espanhola assinala os seus 65 anos.
"Recentemente, liguei para um convento para falar com uma freira. Tudo estava a correr bem até que ela me disse: "Mas a nossa doutrina não vai nos mudar com esse Sínodo?". E eu respondi: "Diga-me, querida, quem colocou isso na sua cabeça?" Trata-se de avançar para recuperar aquela dimensão sinodal que a Igreja oriental tem e nós perdemos", explica.
Sobre as suas ideias reformistas, o Papa explica que "tem que se medir os limites, até onde posso ou não passar" e afirma que, em qualquer caso, "não podemos reformar a Igreja sem o Evangelho".
Francisco mostra-se preocupado com o tradicionalismo de alguns jovens sacerdotes, que por vezes "esconde muita podridão".
"A rigidez vem de boas pessoas que quer servir o Senhor. Reagem assim porque têm medo de um momento de insegurança que estamos a viver. Temos de remover esse medo. Essa casca esconde muita podridão, já tive de intervir em algumas dioceses. Por trás desse tradicionalismo, descobrimos graves problemas morais e vícios, vidas duplas", acusa.
Na entrevista, o Papa Francisco revela a sua intenção de visitar o Kosovo e um regresso à Argentina também "está no programa".
Em relação à guerra na Ucrânia, o Papa está a ponderar designar um representante permanente para ser a ponte entre as autoridades ucranianas e russas. O Cardeal italiano Matteo Zuppi viajará a Pequim, depois de visitar Kiev, Moscovo e Washington. Francisco revela ainda que a Igreja está a organizar um encontro de paz, em novembro, com dirigentes religiosos em Abu Dhabi.
"O Cardeal Pietro Parolin está coordenar esta iniciativa. Queremos fazer fora do Vaticano num território neutro que convide ao encontro de todos", explica Francisco.
O Papa está em Lisboa até ao próximo domingo para participar na Jornada Mundial da Juventude. A propósito do evento, Francisco diz que uma "Pastoral de esquerda ou de direita é doente e prejudica os jovens".
Esta sexta-feira, Francisco visita o Bairro da Serafina, depois de confessar alguns jovens na Cidade da Alegria, em Belém. O Papa almoça com jovens na Nunciatura e termina o dia com uma Via-Sacra no Parque Eduardo VII.