O comissário europeu para a Segurança adverte que a Europa tem de estar preparada para um novo influxo de extremistas do autodenominado Estado Islâmico (EI) caso as forças iraquianas recuperem a cidade de Mossul, bastião dos jihadistas.
"O retomar [do controlo] do reduto do Estado Islâmico no norte do Iraque, Mossul, pode levar a um regresso à Europa de combatentes violentos do EI", disse Julian King ao diário alemão “Die Welt”.
Para o comissário, mesmo o retorno de meia dúzia de jihadistas representaria uma "série ameaça" para a qual a Europa se deve preparar.
As forças iraquianas têm avançado no terreno no âmbito de uma ofensiva que visa recuperar o controlo de Mossul e desferir um golpe significativo no "califado" do movimento extremista na cidade, onde foi declarado, aliás, há dois anos.
As forças iraquianas, apoiadas pelos 60 países da coligação internacional contra EI, iniciaram na segunda-feira uma vasta ofensiva para recuperar a segunda maior cidade do Iraque, situada no norte, o último grande bastião do grupo extremista no país.
Cerca de 30 mil efectivos das forças federais iraquianas - exército, polícia, unidade antiterrorismo - estão envolvidos na operação.
Há cerca de 1,5 milhões de habitantes ainda em Mossul.
A ONU teme uma deslocação massiva da população para fora da cidade e uma crise humanitária com centenas de milhares de refugiados.
Proteger civis
A Amnistia Internacional alerta para a necessidade de proteger os civis durante a ofensiva.
Devem ser feitos todos os esforços para proteger os civis dos violentos combates e de potenciais ataques de retaliação em Mossul", sustentou em comunicado a organização de defesa dos direitos humanos, quando está em curso a operação de retomada da cidade aos extremistas do EI.
No relatório "Punidos pelos crimes do EI: Iraquianos deslocados vítimas de abusos de milícias e forças governamentais", a AI denuncia e documenta graves violações dos direitos humanos, incluindo crimes de guerra, cometidas pelas milícias iraquianas e forças governamentais contra civis deslocados durante anteriores operações militares no Iraque.
Tortura, detenções arbitrárias, desaparecimentos e execuções sumárias são alguns dos crimes denunciados pela Amnistia Internacional no documento de 70 páginas resultante de uma investigação assente em entrevistas a mais de 470 antigos detidos, testemunhas e familiares de pessoas executadas ou detidas arbitrariamente, bem como a activistas e trabalhadores de agências humanitárias e ainda a responsáveis governamentais iraquianos.
Este relatório faz também soar o alarme sobre os riscos iminentes de mais violações de direitos humanos no Iraque na ofensiva para recuperar o controlo de Mossul.
"As autoridades iraquianas devem adoptar medidas concretas para garantir a não-repetição das violações grosseiras [dos direitos humanos] testemunhadas em Fallujah e noutros pontos do Iraque durante combates entre tropas governamentais e o grupo armado Estado Islâmico", frisou Philip Luther, director de investigação e apoio da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e norte de África.
O director da Amnistia deixou ainda um recado aos jihadistas do EI, afirmando: "O grupo armado Estado Islâmico deve permitir que os civis se vão embora e não os usar como escudos humanos".