O presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, classifica o "caso Negreira", que envolve alegados pagamentos do Barcelona, em troca de favores, ao antigo vice-presidente do Comité Técnico de Árbitros da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), como "uma situação extremamente grave", que pode resultar em sanções para o clube catalão.
Em entrevista ao jornal esloveno "Ekipa", Ceferin refere que não pode comentar o caso, porque um comité disciplinar independente da UEFA está a investigar, conforme anunciado a 23 de março. No entanto, nãos e coíbe de adjetivar as suspeitas que pairam sobre o Barcelona.
"Posso dizer que a situação é extremamente grave. Tão grave que, na minha opinião, é uma das mais graves que vi no futebol", assinala.
Em Espanha, o caso já prescreveu a nível desportivo, embora esteja sob a alçada da justiça. O Barcelona não se livra de eventuais sanções desportivas, contudo, uma vez que na UEFA nada está prescrito:
"Os procedimentos estão em curso, ao nível do trabalho do procurador civil espanhol. O mesmo se aplica à UEFA. Aqui, nada prescreveu."
Um painel de inspetores disciplinares e de ética investiga "uma potencial violação do quadro jurídico da UEFA por parte do Barcelona".
O que é o "caso Negreira"?
O "caso Negreira" abalou o futebol espanhol em fevereiro, com a suspeita de que o Barcelona pagou quase sete milhões de euros à DASNIL 95, uma empresa de José Enríquez Negreira, que esteve no Comité Técnico de Arbitragem da RFEF entre 2016 e 2018. A primeira investigação ocupa os anos entre 2001 e 2018, mas o acordo poderá ter começado em 2003.
Segundo o filho de Negreira, as verbas dizem respeito a um trabalho de assessoria, que consistia em explicar aos jogadores como deviam comportar-se com os árbitros durante os jogos e indicações específicas sobre cada juiz. O Barcelona confirmou a versão de Negreira.
A 7 de março, o Fisco decidiu acusar o Barcelona, o seu ex-presidente, Josep Maria Bartomeu, e Enríquez Negreira de corrupção continuada.
O caso vai mesmo a tribunal, em Espanha. O Ministério Público apresentou uma denúncia formal no Tribunal de Instrução número 1 de Barcelona contra o clube, enquanto pessoa jurídica, bem como contra os seus antigos presidentes, nomeadamente Bartomeu e Sandro Rosell, por corrupção, abuso de confiança e registos comerciais falsos.
Barcelona clama inocência
O atual presidente do Barcelona garante que o clube "nunca comprou árbitros e nunca teve essa intenção". Joan Laporta considera que "há uma campanha para prejudicar os interesses" do Barcelona.
Este caso, em que o Barcelona é associado ao crime de corrupção em negócios de forma continuada, vai ser apenso a um outro. O segundo processo resulta de uma denúncia apresentada nas últimas semanas pelo antigo árbitro e atual videoárbitro Estrada Fernández, contra Negreira e a empresa DASNIL 95, por corrupção desportiva.
Supostas irregularidades fiscais cometidas pela empresa de Negreira expuseram, em maio de 2022, os pagamentos alegadamente recebidos pelo antigo vice-presidente da Comissão Técnica de Árbitros.
De acordo com a justiça espanhola, o Barcelona "manteve um acordo verbal estritamente confidencial" com José Enríquez Negreira, de forma a que este, "a troco de dinheiro, realizasse ações tendentes a favorecer o Barcelona na tomada de decisões dos árbitros" nos seus desafios.