O líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, diz que o partido deve defender um referendo sobre a despenalização da morte assistida, uma vez que os sociais-democratas nunca discutiram o assunto internamente.
"Eu queria dizer ao Congresso Nacional do meu partido que, se quiserem iniciar o processo legislativo no parlamento, temos obrigação de ouvir o povo português e fazer um referendo", afirmou perante o 37.º Congresso PSD, salientando que os sociais-democratas nunca debateram internamente o tema da eutanásia.
O ainda presidente da bancada do PSD - estão marcadas eleições para a bancada para a próxima quinta-feira - propôs ainda a constituição de uma Comissão parlamentar de Inquérito sobre a atuação da Segurança Social no âmbito do caso de suspeitas adoções ilegais de crianças que estavam à guarda do Estado por elementos da Igreja Universal do Reino de Deus.
"As comissões de inquérito não podem só servir para apurar o que se passou no sistema financeiro. Se o Estado falhou temos de saber porque falhou para que não volte a falhar", referiu.
Na sua intervenção, o deputado fez questão de se referir ao processo que levou à sua saída do cargo de presidente da bancada, uma decisão que tomou depois de Rui Rio lhe ter manifestado vontade de trabalhar com outra direção.
"Quer eu, quer o dr. Rui Rio, nunca nos desentendemos neste processo que diz respeito à liderança parlamentar do PSD, tanto eu como o dr. Rui Rio respeitámos o tempo que foi pedido, a opinião de cada um. Tivemos os dois o comportamento que melhor defendeu o grupo parlamentar e o PSD", afirmou.
Ao novo presidente, Hugo Soares garantiu que pode contar com ele e deixou um pedido.
"Queria-lhe pedir que, se teve a confiança do partido, confie no partido, o partido está aqui para fazer de si o próximo primeiro-ministro de Portugal", disse.
Hugo Soares aproveitou a sua intervenção para justificar a defesa que tem feito de que o PSD deveria, desde já, anunciar que não viabilizará o Orçamento do Estado para 2019.
Por um lado, defendeu, se o BE e PCP perceberem que existe a possibilidade de os sociais-democratas viabilizarem esse documento serão "os primeiros a saltar fora e a fingirem que não se passou nada e que são uma verdadeira oposição".
Por outro lado, rejeitou o argumento da necessidade de conhecer previamente o documento, lembrando que, em 2010, quando Rio era vice-presidente de Ferreira Leite o partido anunciou o sentido de voto enquanto o Orçamento era aprovado em Conselho de Ministros.
"Algum companheiro acha que o PS vai apresentar um Orçamento que corresponda àquilo em que nós acreditamos? Deve ser o PSD a criar condições para que BE e PCP possam disputar em melhores condições as legislativas de 2019? Não creio que haja alguém com essa opinião", referiu, acrescentando que, a somar a isto, "o PS não costuma executar os orçamentos que aprova".
No final, Hugo Soares deixou "um agradecimento profundíssimo" a cada um dos deputados do PSD, lembrando que o partido tem ainda "o maior grupo parlamentar".
Também o ex-deputado António Maria Pinheiro Torres defendeu que o PSD deve votar contra a legalização da morte assistida.
Pinheiro Torres falou pouco depois de Hugo Soares ter defendido um referendo sobre este tema.
Rui Rio é um dos subscritores do manifesto pela despenalização da morte assistida que, há dois anos, deu origem ao processo que agora está prestes a chegar ao Parlamento. Em entrevista à Renascença e ao Público o agora presidente do PSD admitiu a realização de um referendo.