Portugal deve estar pronto para o que der e vier, diz Graça Freitas na Renascença. A diretora-geral da saúde garante que Portugal está preparado e que os portuguese devem estar tranquilos.
“O nosso país tem uma estrutura de saúde pública muito bem implantada. Estamos entre os 20 ou 30 países, do ponto de vista da capacidade instalada de serviços, melhores do mundo. Quando não está em epidemia ou pandemia, o país já tem uma infraestrutura, um sistema, uma rede de serviços, quer assistenciais clínicos quer de saúde pública, muito ligados à epidemiologia, à investigação e ao controlo destes surtos muito robusta”, explica.
Convidada no programa As Três da Manhã, Graça Freitas lembra o que se passou com a gripe A: “conseguimos contê-la no início” e depois “entrámos na fase de mitigação”, altura em que “temos de tomar outro tipo de medidas”, porque o número de casos aumenta.
“Há uma escalada de risco e há também uma escalada das coisas que podemos fazer para contrariar esse risco. E até determinada altura, os países são capazes de conter uma epidemia ou até o início de uma pandemia, mas a partir de certa altura instituem aquilo a que chamamos medidas de mitigação”, explica a responsável.
“É aí que Portugal está entre os melhores países do mundo”, sublinha.
A Direção-geral da Saúde (DGS) não acredita que o coronavírus – que já fez 17 mortos na China e infetou pessoas também noutros países – venha a ter uma grande incidência em Portugal. Contudo, prevenção é a palavra de ordem.
“A DGS tem um lema, que é o lema da diretora-geral: preparar para o pior e esperar pelo melhor”, afirma Graça Freitas. “Já trabalho em emergências há cerca de 30 anos e tenho sempre para mim essa ideia. É melhor estarmos preparados e, se não acontecer, ficarmos gratos à natureza e aos factos e aos médicos e às autoridades de saúde, que conseguiram conter o surto. Mas temos de estar prontos para o que der e vier”, defende.
Por isso, Portugal já está a tomar medidas. “O que estamos a fazer agora é a reativar toda a estrutura de saúde pública, de epidemiologia, de laboratório, da clínica, do INEM para o transporte de doentes, a afinar todos os mecanismos que temos programados para estas situações”.
“As autoridades estão atentas”
“O nosso papel é estarmos atentos, em alerta”, diz a diretora-geral da saúde, referindo-se quer aos profissionais de saúde (que têm uma linha de atendimento específica) quer aos cidadãos em geral.
Graça Freitas diz ser essencial “cumprirmos as indicações das autoridades”. Por exemplo, “uma pessoa que vá para a China, a primeira coisa que deve fazer é sintonizar-se com as orientações das autoridades locais, que são as que mais sabem do que se está a passar”.
Por cá, “nunca ir diretamente para um serviço se está com sintomas – há que primeiro ligar para a linha SNS24 (808 24 24 24)”, lembra a responsável.
“Os profissionais de saúde têm uma linha médica, atendida por médicos, dedicada a validar casos e a tirar dúvidas e, portanto, se aplicarmos estes protocolos de atuação, pelo menos nas fases iniciais de grandes epidemias, conseguimos fazer o que fizemos na pandemia H1N1 [gripe A], que foi ter semanas de contenção e depois entrar em fase de mitigação”, destaca.
Por tudo isto, Graça Freitas diz que é importante que haja “tranquilidade”. E garante: “as autoridades estão atentas”.
A caminho de 3 cidades isoladas na China. OMS volta a reunir-se
O número de mortos por causa do coronavírus continua a subir na China. São agora 17 as vítimas mortais e 571 os infetados.
Por causa do surto, as autoridades chinesas isolaram duas cidades – Wuhan (onde começou a epidemia) e Huanggang (situada a 65 quilómetros de Wuhan), sendo que, nesta quinta-feira, Ezhou (junto ao rio Yangtze) anunciou também ter encerrado as estações de comboio.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) fala numa medida “sem precedentes na história da saúde pública”.
“Nunca se viu, na história da saúde pública, o isolamento de 11 milhões de pessoas [número de habitantes em Wuhan]. Por isso, não é uma medida que tenha sido recomendada pela OMS”, afirmou o representante da organização na China, citado pela agência Reuters, ressalvando que a medida drástica demonstra “o compromisso na contenção da epidemia”.
A rede de transportes foi suspensa em Wuhan nesta quinta-feira de manhã e, horas depois deste anúncio, Huanggang, onde vivem sete milhões de pessoas, repetiu a medida.
Recorde-se que o surto de coronavírus surge numa altura em que os chineses comemoram o novo ano lunar, altura em que costumam deslocar-se pelo país e arredores.
Com vista a evitar essas deslocações, Pequim anunciou, nesta quinta-feira, cancelar todos os grandes eventos relacionados com o Novo Ano Chinês, tal como Macau já havia anunciado.
O coronavírus é uma nova infeção viral que pode causar pneumonia, para a qual ainda existe uma vacina. Os sintomas incluem febre, tosse e dificuldade em respirar.
Embora a origem desta nova estirpe ainda não tenha sido identificada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) acredita que a fonte primária tenha sido um animal.
Nas declarações à Renascença, a diretora-geral de saúde confirma que ainda não existe certezas quanto à origem. “Pensa-se que este vírus foi transmitido de um animal para pessoas – será, portanto, uma zoonose – mas não temos ainda a certeza. Essa é uma das fragilidades acerca deste surto, não saber a origem”, afirma.
Na quarta-feira, a OMS reuniu o seu Comité de Emergência (formado por especialistas de diversos países, incluindo epidemiologistas chineses) para decidir se declara emergência de saúde pública internacional.
A reunião foi inconclusiva e prossegue nesta quinta-feira. A decisão deverá ser anunciada numa conferência de imprensa marcada para as 18h00. Se for declarada emergência de saúde pública internacional, será a sexta vez que acontece na última década.
O vírus teve origem na cidade central de Wuhan, na província de Hubei, no final de 2019 e já causou 17 mortos e 571 infetados. A maior parte das pessoas já tinha problemas respiratórios e idade superior a 60 anos.
O vírus tem vindo a espalhar-se, tendo sido detetados casos em Pequim, Xangai e nos territórios autónomos de Macau e Hong Kong.
Fora da China, são conhecidos oito casos, dos quais quatro na Tailândia. Os restantes foram detetados nos Estados Unidos, na Coreia do Sul, no Japão e em Taiwan (Formosa). Tudo de pessoas que haviam estado em Wuhan.
Nesta quinta-feira, ao final da manhã, Singapura anuncia o primeiro caso de coronavírus no país, fazendo aumentar para nove o número de infetados fora da China.
O doente é um homem de 66 anos que reside em Wuhan, cidade onde começou o surto. De acordo com o Ministério da Saúde singapurense, está em análise um outro possível caso.
Idosos comem vegetais para conter propagação
Os cidadãos mais velhos de Xangai, a capital comercial da China, decidiram alterar a sua alimentação e manter-se em casa o mais possível, numa tentativa de prevenir e conter a propagação do novo vírus.
“É melhor estar seguro e assim não afetarei outras pessoas”, afirma um homem de 70 anos citado pela agência Reuters. Usava uma máscara e encontrava-se à porta de uma movimentada clínica, à espera para ver um médico porque se sentiu febril na noite anterior.
“É melhor estar seguro e assim não afetarei outras pessoas”, afirmou, enquanto abaixava a máscara para fumar. "E também estou a tentar fumar menos", acrescentou a rir.
O sistema imunológico vai enfraquecendo com a idade, tornando os idosos mais suscetíveis a infeções e doenças – e a verdade é que a maioria das vítimas do coronavírus tem mais de 60 anos ou condições pré-existentes de dificuldades respiratórias.
Um outro homem entrevistado pela Reuters diz que só vai onde é preciso e evita lugares lotados ou áreas com animais. "Vou direto onde preciso ir e depois vou para casa", garante Li Meihua, de 79 anos, também por trás de uma máscara.
“O meu nariz já começou a escorrer um pouco”, nota, acrescentando que decidiu “manter uma dieta mais limpa: agora sou vegetariano”.