Numa mensagem dirigida à nação, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma "mobilização parcial" dos cidadãos do país, quando a guerra na Ucrânia está quase a chegar ao sétimo mês do conflito, numa mensagem dirigida à nação.
Em declarações à Renascença, o major-general Carlos Branco analisou a situação, considerando que o discurso resulta do fracasso das tropas de Moscovo.
“Considero que estes desenvolvimentos que estamos a ver agora - o discurso do Putin, o conteúdo, as palavras que ele empregou - são, exatamente, uma consequência do desaire que as forças russas tiveram no campo de batalha. São uma tentativa de corrigir essas falhas, porque desde o início que a Rússia se envolveu no conflito com um número muito reduzido de soldados", justifica.
Sobre o impacto desta mobilização, refere que dependerá de "um número de fatores que nós não controlamos, um deles é saber quando é que as nossas forças estarão prontas para entrar em combate e se, de facto, vão entrar em combate no momento certo, por exemplo”.
Para Carlos Branco, não restam dúvidas de que, depois deste discurso de Putin, vai tornar-se impossível a realização de um pacto negocial.
“Este desenvolvimento, por parte da Rússia, criou um ponto de não retorno do ponto de vista de uma solução negocial. Essa questão, a partir deste momento, está posta de parte. Daqui para a frente, vamos continuar a assistir aos combates até à capitulação de um dos litigantes”.
Putin vai enfrentar instabilidade social?
Sobre a ameaça nuclear, Carlos Branco recorda que a Rússia ainda não usou todo o arsenal que tem disponível e que o conflito pode passar a ser nuclear em caso de derrota das tropas russas.
“A Rússia não empregou no conflito, até agora, todo o seu arsenal e tem uma série de argumentos que pode pôr em cima da mesa e que, seguramente, vai colocar. Esperamos que isso surja mais dia, menos dia, mas, para já, ainda não estamos no patamar que permita uma escalada para o nuclear. Isso só acontecerá, do meu ponto de vista, se existir uma derrota militar da Rússia no terreno”, esclarece.
Para o major-general Arnaut Moreira, o anúncio de "mobilização parcial" dos russos em idade de combater abre caminho para uma escalada no conflito na Ucrânia, ainda que os 300 mil reservistas não estejam disponíveis de imediato para engrossar as fileiras militares russas.
“[Os desenvolvimentos] indiciam
certamente uma escalada. Entre a decisão de hoje e a capacidade militar
de ter batalhões taticamente formados, eles têm de ser integrados em
unidades, que têm de ser equipadas, formadas, etc. Vejo aqui um período
de tempo relativamente longo. Vamos ver como é que evolui a guerra
nestas próximas semanas e em que altura este potencial de combate vai
estar disponível para as operações”, afirma o Major-general.
E, alerta este analista militar, a decisão de chamar reservistas vai criar, internamente, alguma instabilidade social, algo que considera "perigoso" para o regime russo.
“Putin gozava de um apoio popular intrínseco, mas agora o elemento emocional começa a ganhar uma vantagem sobre o elemento de natureza racional. Isto é muito perigoso para a própria Rússia. Todas as derrotas de natureza militar têm consequências de natureza política e Putin, dificilmente, obterá uma vitória de natureza militar na Ucrânia”, justifica.
Esta quarta-feira, um dos conselheiros da presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, ridicularizou os anúncios do Kremlin, lembrando o fracasso do plano russo de uma guerra-relâmpago na Ucrânia e como a Rússia continua a negar os seus fracassos militares na Ucrânia.