Chega amanhã a Portugal o Presidente de Angola, João Lourenço, para uma visita importante do ponto de vista económico e político. No Porto, J. Lourenço participa num seminário com empresários dos dois países. O presidente angolano fará, também, uma intervenção numa sessão solene na Assembleia da República.
É manifesto que Portugal não é uma prioridade para o novo poder em Angola. Mas também são evidentes as vantagens, para ambas as partes, de um bom relacionamento entre os dois países.
Embora J. Lourenço seja hoje um homem rico e um latifundiário, parece genuíno o seu empenho em lutar contra a corrupção, que era generalizada em Angola no tempo do seu antecessor, José Eduardo dos Santos. J. Lourenço foi ministro da Defesa entre 2014 e 2017; e consta que recusou negócios menos claros, incluindo a um filho seu.
J. Lourenço é Presidente da República desde há pouco mais de um ano, ao longo do qual tem atacado o enorme poder económico de J. E. dos Santos e da sua família, poder acumulado ao longo de quase quarenta anos de presidência. É surpreendente que J. E. dos Santos, que deteve o poder quase absoluto em Angola durante tanto tempo, não tenha acautelado a sua “reforma”. Agora, o novo presidente desafia o antecessor a denunciar os corruptos.
Aconteceu uma transição pacífica do poder ao mais alto nível em Angola, o que é positivo. E há indícios de que existe hoje maior liberdade de expressão naquele país, sendo de esperar que, gradualmente, a justiça angolana se torne de facto independente do poder político e militar. E que o pluralismo partidário se afirme.
Mas importa ser realista: não é tarefa fácil democratizar um país com a história de Angola. Caminhar nesse sentido já é uma grande coisa. Oxalá continue.