A Itália é o país com os níveis mais baixos de natalidade na Europa. Preocupado com o inverno demográfico do velho continente, o Papa Francisco inaugurou esta sexta-feira de manhã, em Roma, os trabalhos dos “Estados Gerais da Natalidade” promovidos pelo Fórum das Associações Familiares italianas e lembrou que ”todos os anos é como se uma cidade com mais de duzentos mil habitantes desaparecesse em Itália”.
Neste encontro, em que participou também o presidente do conselho de ministros Mario Draghi, o Papa alertou que, "para o futuro ser bom, é necessário cuidar das famílias, particularmente das famílias jovens, atormentadas por preocupações que correm o risco de paralisar seus projetos de vida”. E, perante tanta instabilidade, “é triste ver mulheres obrigadas a esconderem a barriga no local de trabalho, com medo de que uma gravidez possa resultar em demissão”.
Francisco lançou várias provocações: “Onde está nosso tesouro, o tesouro de nossa sociedade? Nos filhos ou nas finanças? O que nos atrai, a família ou rendimento dos negócios? Tem de haver coragem para escolher o que vem primeiro, porque aí está amarrado o coração”, disse o Papa. “A coragem de escolher a vida é criativa, porque não acumula nem multiplica o que já existe, mas abre-se à novidade” E se “cada vida humana é a verdadeira novidade, que não conhece antes e um depois na história”, então, “os talentos que possuímos servem para transmitir, de geração em geração, o primeiro dom de Deus, o dom da vida”, afirmou.
A pensar na educação e no futuro dos jovens, Francisco também considerou “triste ver modelos que só se preocupam em aparecer, sempre belos, jovens e em forma”, sublinhado que “os jovens não crescem graças aos fogos de artifício das aparências, amadurecem se atraídos por quem tem a coragem de seguir grandes sonhos, de se sacrificar pelos outros, de fazer o bem ao mundo em que vivemos”.
Para o Papa, "manter-se jovem não vem de tirar selfies e fazer retoques, mas de poder um dia espelhar-se nos olhos de seus filhos”. E denunciou os riscos de passarem “a mensagem de que realizar-se significa ganhar dinheiro e ter sucesso, enquanto os filhos parecem quase uma diversão, que não deve atrapalhar as próprias aspirações pessoais. Essa mentalidade é uma gangrena para a sociedade e torna o futuro insustentável”, concluiu.
Francisco considerou “indispensáveis uma política, uma economia, uma informação e uma cultura que promovam corajosamente a natalidade”, medidas que implicam uma visão ampla, “não apenas baseada na procura de consensos imediatos, mas no crescimento do bem comum a longo prazo”.