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Unidos mas separados. Mascarados ordenados em mais de 70 filas. Nunca a Alameda Afonso Henriques, em Lisboa assistiu a um 1.º de Maio assim. Nem Isabel Camarinha, que se estreou neste Dia do Trabalhador na qualidade de secretária-geral da CGTP.
Ao ver esta tarde os relvados frente à Fonte Luminosa, quase parecia estar a ser adaptada à realidade uma imagem retirada do álbum “The Wall”, dos Pink Floyd.
Havia algo de pretoriano, de muito arrumado, de muito protegido. Milimetricamente organizado - como não podia deixar de ser pela CGTP - e adaptado aos tempos que são de pandemia.
Desta vez na Alameda não há barraquinhas, nem faixas coloridas a torto e a direito. Cartazes, sim, providenciados pela organização e até máscaras oferecidas aos participantes.
Estes não seriam mais de mil, em filas separadas quatro ou cinco metros, marcadas com fitas vermelhas e brancas no chão. Cada fila acolhia entre 15 a 20 pessoas.
Uma estranha imagem para o que é habitual num 1.º de Maio, celebração de massas por excelência, que arranca sempre com um desfile, colorido de sons, de abraços, de apertos de mão, de forte ajuntamento. Aqui não houve nada disso.
E assim se estreou na qualidade de secretária-geral da Intersindical, num 1.º de Maio, Isabel Camarinha.
À Renascença confidencia que o dia de hoje só tem paralelo com o 1.º de Maio de 1974. Para a secretária-geral da CGTP, “tornou a acontecer, veio para a rua toda a liberdade, todas as reivindicações dos trabalhadores”. Contudo, sublinha, “o ideal seria para todos fazermos as manifestações, porque isso significava que não tínhamos este vírus e esta ameaça que nos impede de ter uma vida coletiva normal”.
Ainda assim, retira uma lição: “O que fizemos foi mostrar que mesmo em situação de pandemia, os trabalhadores, através dos seus representantes, fazem ouvir a sua voz porque o vírus não ameaça só a saúde, mas também os direitos de todos os trabalhadores”.
O assunto acabou por ser peça central no seu discurso, os efeitos nefastos da Covid-19 no mundo laboral. Para Isabel Camarinha, “há centenas de empresas que se estão a aproveitar desta situação difícil, até de forma escandalosa, porque não estamos todos no mesmo barco. Os trabalhadores estão a perder retribuições, postos de trabalho e os seus direitos violados e atropelados pelas empresas”.
A questão é se há solução. Para Isabel Camarinha, há “um antivírus, que é a luta!” E é sua convicção que foi isso mesmo que a CGTP, hoje, mostrou em Lisboa e noutros pontos do país.
Mostrou que “os trabalhadores estiveram representados, na Alameda, e em casa os que não puderam ir, terão afirmado ainda que virtualmente, a necessidade de haver resolução para os problemas”. E são muitos aos olhos da Intersindical, sendo necessário, “proibir os despedimentos todos, acabar com precariedade, reverter os despedimentos de trabalhadores com vínculos precários dos que trabalham de forma permanente, garantir as remunerações dos trabalhadores, e assim ajudar a ultrapassar esta crise”.
O que pode perante tudo isto fazer a CGTP, e será que pode fazer alguma coisa, tendo em conta que pode sentir-se inibida perante o sentimento de coesão nacional criado em torno da luta contra o novo coronavírus?
Isabel Camarinha diz que sim. Diz, “claro que sim, porque há sempre espaço para a luta justa dos trabalhadores. Já houve ganhos no passado, e haverá no presente e no futuro. A CGTP compromete-se a continuar a lutar, e a reivindicar”.
Após esta curta conversa, no fim do 1.º de Maio da CGTP, já não havia gente por perto. Os cerca de mil que assistiram a tudo na Alameda Afonso Henriques partiram para suas casas. No relvado foram recolhidas as fitas vermelhas que ordenaram os trabalhadores. Nos passeios foram arrecadados os cartazes utilizados. Ficam para outras concentrações que para a CGTP, a luta está longe de parar, apesar deste estranho 1.º de Maio.