A Ucrânia só poderá aceitar negociações de paz quando a Rússia suspender os ataques, afirma o bispo ucraniano responsável pelo Departamento da Pastoral da Migração da Igreja Ucraniana Greco-Católica.
Em entrevista à Renascença, D. Stepan Sus comentou as declarações do Papa Francisco à emissora suíça RSI. Questionado sobre se Kiev deveria desistir da guerra, o Santo Padre respondeu que a Ucrânia deveria “mostrar a coragem da bandeira branca” e abrir negociações com a Rússia para encerrar a guerra que já dura há dois anos.
De visita a Fátima, D. Stepan Sus salientou que a guerra só existe porque a Rússia ataca.
“Na Ucrânia, achamos que, neste momento, o diálogo com a Rússia não é possível, porque um verdadeiro diálogo, um diálogo com consequências positivas e corretas apenas será possível quando a guerra acabar, quando houver um cessar-fogo, e o nosso inimigo, a Rússia, que começou esta guerra, a parar”, afirma o bispo ucraniano.
D. Stepan Sus sublinha que, “se eles pararem de nos matar, já não precisaremos de nos defender mais”.
“Estamos a defender-nos porque eles disparam, eles estão a matar-nos, e só depois disso poderemos começar a negociar, a falar sobre justiça, paz, a verdadeira paz, não apenas a paz no papel, nos documentos e acordos”, insistiu o bispo.
Para o responsável da Igreja Ucraniana Greco-Católica, os países ocidentais já se aperceberam que, se não ajudarem a Ucrânia a defender-se, poderão também ter a guerra à porta.
Fundação AIS propõe “Quaresma com a Ucrânia”
D. Stepan Sus está em Portugal a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), no âmbito da campanha “Quaresma com a Ucrânia”.
Segundo Catarina Martins, diretora da AIS, “temos a Igreja do lado da população a ajudar em tudo o que a população necessita e temos esta obrigação de ajudar esta Igreja que precisa de sobreviver”.
“Neste primeiro momento, é isto que queremos fazer, alertar, mostrar o trabalho extraordinário que a Igreja tem feito nestes dois anos de guerra de abrir as portas, de acolher as pessoas, escutar, prestar cuidados médicos e a melhor segurança possível, tendo em conta que estamos num país em guerra”, adiantou.
Graças à colaboração da população portuguesa, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre tem podido ajudar os ucranianos em várias frentes, quer com bens de primeira necessidade, quer fornecendo abrigo à população. Uma ajuda que D. Stepan Sus diz ter mudado a opinião que muitos ucranianos tinham da Igreja.
“A maioria das pessoas pensava que a Igreja era somente um local para as orações mas, durante a guerra, elas descobriram que a Igreja é também um local para abrigo”, pois as caves de “todas as nossas igrejas em Kiev e noutras regiões da Ucrânia” foram “usadas como abrigos para as pessoas.”
Assim, “os não-crentes veem que a Igreja não é apenas o local das orações, mas um espaço de generosidade e de pastoral social, de abertura às pessoas que precisam, independentemente da sua religião.”