No passado domingo o anarco-capitalista Javier Milei derrotou o peronista Sérgio Massa na segunda volta da eleição presidencial na Argentina. Perante o populismo peronista, que há décadas afeta aquele país, os argentinos preferiram agora o desbragado populismo de Milei, que é uma novidade.
A queda do câmbio da moeda argentina já não pode ser travada com compras pelo banco central, que não têm divisas fortes. A impressão maciça de notas pelo banco central levou entretanto o défice orçamental do Estado argentino para cerca de 10% do PIB.
Milei diz preferir a Máfia ao Estado e quer privatizar tudo. Propõe-se eliminar vários ministérios, incluindo o da Educação e o da Saúde, bem como o banco central argentino. Pretende que a moeda oficial do seu país – o peso, que Milei classifica de “lixo” - passe a ser o dólar dos EUA, como o Equador fez em 2000, com resultados sofríveis. Seria, diz Milei, uma maneira de combater a inflação, que já ultrapassa os 140% na Argentina.
Mas não chega definir Milei como um ultraliberal na economia. Ele revela traços de ditador, até de fascista. É o caso do seu desprezo pelos adversários políticos, que insulta constantemente e a quem nega legitimidade, e do seu visível gosto pela violência. Estou certo de que Milei não eliminará os atuais meios de repressão do Estado argentino.
O novo Presidente prometeu apresentar uma lei que proíba manifestações públicas. E considera a justiça social uma aberração, num país onde mais de 40% da população vive na pobreza. Milei revela, também, uma disposição para restringir as liberdades dos opositores e da Imprensa. Não falta muito para vir proclamar uma ditadura apoiada pelas “pessoas de bem”.
Milei dispõe de poucos apoios parlamentares, tanto na câmara baixa como no senado. O que prefigura ferozes ataques aos políticos parlamentares, um possível primeiro passo para abandonar a democracia pluralista.
A eleição deste personagem foi saudada com entusiasmo por Trump, que o considera um seguidor seu, bem como por Bolsonaro. Elon Musk, dono do X (antigo Twitter) escreveu que, agora, “a Argentina tem a prosperidade pela frente”. Já J. Biden, convidado para a posse de Milei, em 10 de dezembro próximo, declinou o convite, por “razões de agenda”. Fez bem.
Veremos até onde chegará a destruição da democracia argentina.