A 'Design Foundation for Women and Crafts' (DFFWAC), fundação com sede em Portugal que ajuda a proteger mulheres artesãs em todo o mundo, considerou "grave e lamentável" que uma marca norte-americana tenha "plagiado" as tradicionais camisolas poveiras.
A posição foi transmitida por Guta Moura Guedes, co-fundadora da fundação, que considerou que "a usurpação cultural só contribui para enfraquecer a já fragilíssima situação desta comunidade de artesãs portuguesas no presente cenário pandémico".
"É lamentável que, perante este caso envolvendo Portugal, a Tory Burch responda com um simples pedido de desculpas nas redes sociais, apenas depois deste ter ganho expressão nos media" disse a responsável numa reação nas redes sociais.
Guta Moura Guedes alertou, ainda, que "a camisola, claramente plagiada e cuja origem da produção se desconhece, continua à venda nas lojas físicas e online, mostrando claramente desrespeitar os valores que defende, os portugueses e, em particular, este conjunto de artesãs".
A responsável espera que "este caso seja defendido com a devida importância, e que a comunidade de mulheres, cuja subsistência depende destas camisolas, seja justamente indemnizada".
Na mesma publicação, Guta Moura Guedes lamentou a postura da designer Tory Burch "que declara como parte integrante do seu ADN de responsabilidade social na defesa das mulheres e das comunidades artesãs", e considerou que a marca deveria ser mais sensível a esta questão do plágio.
"A Tory Burch conhece as consequências e os danos de plágio para o negócio. Sabe que o desrespeito pela propriedade industrial é um crime punível por lei, pois em 2015 foi também vítima de plágio (?) vencendo uma disputa judicial que resultou numa indemnização à marca americana de um total 41 milhões de dólares", recuperou a co-fundadora da DFFWAC.
Hoje, o Estado Português, através do Ministério da Cultura, anunciou que pretende acionar meios judiciais para combater a "apropriação abusiva" da camisola poveira, por parte da estilista norte-americana.
A tutela garantiu que "fará o que estiver ao seu alcance para que quem já reconheceu publicamente o seu erro não se demita das suas responsabilidades e corrija a injustiça cometida, compensando a comunidade poveira".
Ouvido pela agência Lusa, o presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, do distrito do Porto, explicou que, juntamente com o Ministério da Cultura, está a ser estudada uma "ação judicial, junto do Tribunal de Nova Iorque, para exigir a reparação dos danos para a cultura portuguesa e da Póvoa de Varzim".
"O Governo português, e bem, assumiu isto como uma questão de Estado. Fico satisfeito por ver que quando é posto em causa o nosso património, também nos conseguimos unir tal como aconteceu nestes dias em prol da camisola poveira", disse Aires Pereira.
Em causa está uma 'cópia' da tradicional camisola poveira, peça de vestuário típica da comunidade piscatória local, que foi lançada na coleção da estilista norte-americana Tory Burch, e inicialmente promovida com uma peça de inspiração mexicana.
Pressionada pela atenção mediática que, entretanto, se gerou, a designer admitiu o erro, alterou a descrição da peça de vestuário que está a venda no site por 695 euros, e nas redes sociais deixou um pedido desculpas pelo sucedido, comprometeu-se a estabelecer um protocolo com o município poveiro para apoiar as artesãs locais.