O presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), José Carlos Santos, alerta na Renascença que o novo programa da disciplina não vai
preparar melhor os alunos para o ensino superior.
No Dia Internacional da Matemática, José Carlos Santos considera que o lema escolhido para celebrar este dia - "A matemática é para todos!" não faz jus à realidade portuguesa, já que muitos vão ser os alunos deixados para trás.
O novo programa de ensino, homologado em janeiro, vai agravar o fosso entre os alunos da disciplina, defende o presidente da SPM: "Os melhores alunos acabam por se safar, melhor ou pior, mas o ensino não deve ser vocacionado para os melhores alunos, mas sim para que, na medida do possível, o máximo número de alunos tenha grande compreensão dos vários assuntos que são ensinados."
O novo currículo entra em vigor apenas em 2024, de forma a, atempadamente, se alterarem os manuais e se prepararem os docentes. Nesse plano, a associação não vê qualquer problema, porque a contestação prende-se com o conteúdo, uma vez que “os programas ficam mais superficiais e com menos encadeamento lógico das coisas".
De acordo com o professor, os alunos já veem a matemática como uma série de receitas, em que não se percebe os porquês e em que para cada problema se vai buscar a solução com o número indicado, perdendo capacidade de raciocínio. “Claro que muitos acabavam por não perceber os porquês, mas os poucos que percebiam iam melhor preparados para o nível superior”, assinala.
Existe ainda um problema cultural em Portugal, no que toca ao ensino da disciplina: os alunos ainda pensam na matemática como um bico de sete cabeças e os pais não estão isentos de responsabilidades.
"Quando um filho diz aos pais que a matemática é difícil, os próprios pais concordam, mas quando se queixam da dificuldade do inglês, o que lhes respondem é que têm de estudar mais, porque o inglês é muito importante”, exemplifica, acrescentando que esta atitude acaba por ser um travão à mudança de mentalidade com que se encara a matemática.
“A matemática não é só para sobredotados. É para todos. Não há génios, mas sim aqueles que estiveram para se maçar e os que não estiveram para se maçar."
Outro problema destacado pelo presidente da SPM é o da compreensão da língua: “Por vezes, os alunos não percebem o que se lhes está a pedir, não têm o domínio da língua, não sabem interpretar. E um problema para ser minimamente interessante tem de ser sofisticado, não pode ser reduzido a três ou quatro palavras curtas."
Não obstante todos os entraves colocados ao ensino da matemática, o panorama nacional tem vindo a melhorar e são estas iniciativas como a do Dia da Matemática - ou Dia do Pi - que ajudam a aproximar os alunos da disciplina.
O presidente da SPM assinala também as Olimpíadas de Matemática como algo que tem contribuído para a motivação e a criação de grupos de alunos “com um nível de desempenho e capacidade intelectual superior".
"E nunca antes Portugal teve tantos bons investigadores, alguns deles a trabalhar fora do país", acrescenta José Carlos Santos.
“No nível mais elevado da matemática, o futuro é bastante promissor, receio é pelos alunos intermédios, aqueles que não estão a pensar ser pesquisadores, mas precisam de saber matemática para os diversos cursos que tirarem, pode ser matemática, engenharias, ou arquitetura”, remata o presidente da SPM.