No Parque Eduardo VII, à medida que se chega ao Marquês, o início da tarde desta quinta-feira apresenta um cenário diferente do habitual. Grupos de agentes das forças de segurança, vindos de várias partes do país, concentram-se em pequenos grupos para almoços improvisados, antes de entrar na manifestação, rumo à Assembleia da República, onde há uma concentração marcada para as 16h.
É esse o caso de José Sampaio, de 58 anos, 34 deles na polícia, e de Francisco Amaro, de 52, há 29 nos quadros. Ambos trabalham na Polícia Municipal do Porto e, por "entre um panado e um bocadinho de broa", consideram que "pode ser uma provocação" todo o aparato montado em volta da Assembleia da República, com blocos de cimento e grades num largo perímetro.
"Vimos reivindicar aquilo achamos devido, de forma pacífica, nunca querendo perturbar ambiente da cidade", garante José Sampaio. "Olhamos para aquilo em volta do Parlamento e achamos impróprio para nos receber", corrobora Francisco Amaro.
Ambos consideram que, na Polícia Municipal portuense, usufruem de condições acima da média, mas não podiam deixar de estar "solidários" com os colegas, nomeadamente da PSP. "Saímos do Porto às 8h30, chegámos agora [13h30]. Agora estamos num pequeno lanche e depois seguimos", continua Francisco Amaro.
As reivindicações que defendem são as de "há muitos anos", sublinham. "Temos de ser uma profissão de risco, de desgaste rápido. Defendemos a sociedade. Dizemos que somos um dos países mais seguros do mundo, mas é à custa do nosso trabalho", sublinha.
"Estou na polícia há 29 anos e só vejo as condições a degradarem-se. Na polícia em que estamos, pela influência da autarquia e pelos dirigentes, temos sorte ter condições de trabalho dignas, viaturas e até acréscimo de vencimento. Mas temos de estar solidários com resto da polícia, em que não cumprem sequer o que o tribunal determina. Enquanto a nós já pagaram suplementos que estavam retidos, à restante polícia não", resume Francisco Amaro.
Quanto às polémicas em torno do Movimento Zero, José Sampaio considera que "também interessa ao Governo que se fale dele de forma negativa, a dizer que não tem cara. É uma forma de não querer negociar".
"Estamos tranquilos, porque o Movimento Zero não tem extremistas nem nada que se pareça. Nasceu do desgaste que as próprias associações sindicais têm manifestado, sem evoluir nas nossas pretensões. Hoje em dia, com as redes sociais, espalhou-se com alguma rapidez. A própria comunicação social começou a falar do movimento com alguma insistência e deu-lhe a fama toda. Não achamos que hoje possa haver nada de especial", conclui Francisco Amaro.