​Combate à Covid-19 enfraqueceu cuidados paliativos. “Doentes estão a morrer com menor atenção e mais isolados”
15-04-2020 - 22:43
 • Pedro Mesquita

Muitos dos seus médicos estão a ser desviados para a linha da frente da batalha contra a pandemia. É o que garante a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos à Renascença.

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Os médicos são fundamentais nas equipas de cuidados paliativos, mas a manta é curta. E muitos deles estão a ser chamados à linha da frente do combate à pandemia, explica Duarte Soares, o presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.

“Existem, efetivamente, médicos que estão a ser levados, nesta fase, para outras especialidades e para a linha da frente. Portanto, estão a dedicar menos tempo aos cuidados paliativos”, garante.

Com isto, o apoio aos doentes terminais, e às suas famílias, ficou destapado, precisamente quando é mais necessário.

“Os doentes continuam com necessidades paliativas, sejam os doentes covid positivo ou não. E também aqueles doentes que tem as suas patologias habituais, designadamente os doentes oncológicos. Aquilo que vemos no terreno é que não temos menos necessidades. Pelo contrário: temos mais necessidade de mais cuidados paliativos e há a noção de que estes doentes estão a morrer com menor atenção e de forma mais isolada”, explica Duarte Soares.


Ouça aqui a entrevista do jornalista Pedro Mesquita:


Muito dos cuidados que recebiam estes doentes chegam agora na distância do teletrabalho. E isso é um problema. O presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos explica, lamentando: “Não podemos por os profissionais de cuidados paliativos, que são poucos, em teletrabalho, não é? Não pode ser. Sobretudo os psicólogos e os assistentes sociais estão a fazer acompanhamento por uma chamada telefónica. Estes doentes precisam de muito mais do que uma chamada telefónica”.

Duarte Soares sublinha que os cuidados paliativos não são um luxo e não podem ser dispensados pelo Serviço Nacional de Saúde. Mais ainda em tempos de pandemia. “Os cuidados paliativos têm que ser o centro do sistema, têm que estar disponíveis para os doentes que deles precisam, incluindo esta nova população [infetado pelo novo coronavírus].”

Portugal regista 599 mortos associados à covid-19 em 18.091 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou quase 127 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 428 mil doentes foram considerados curados.