"O ciclismo também é território, turismo e economia": uma conversa sobre a Vuelta, a Volta e o que falta ao ciclismo português
20-08-2024 - 11:25
 • Pedro Castro Alves

Em entrevista à Renascença, o presidente da federação de ciclismo fez um balanço dos três dias da Volta a Espanha nas estradas portuguesas e refletiu sobre o futuro da modalidade.

Foram “três dias maravilhosos e fantásticos”. É assim que Delmino Pereira, o ainda presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, olha para o arranque da Vuelta nas estradas portuguesas. “Portugal pôde assistir a ciclismo de alto nível.”

Este dirigente faz um “balanço muito positivo”. Afinal, testemunhou-se a uma “adesão do público em massa”. Houve competição com grande emoção e criou-se um espetáculo de entretenimento, explica Pereira.

“O nosso país também ajuda”, reflete, em entrevista a Bola Branca. “É bonito, tem grandes monumentos, tem paisagens maravilhosas que foram exibidas e intercaladas com a corrida. Isso foi um espectáculo muito bom, foi muito positivo para Portugal.”

A presença de grandes figuras do ciclismo português, como João Almeida, Nélson Oliveira e Rui Costa, aliadas à de protagonistas do ciclismo internacional provocou “uma adesão surpreendente”, confessa o presidente da federação, agradado pelo “mar de gente”que se viu nas partidas.

Questionado sobre o que se pode retirar da Vuelta para olhar para dentro, para a nossa Volta, Delmino Pereira considera inevitável a comparação. A principal diferença está no nível competitivo, explica. “O circuito World Tour, numa linguagem futebolística, é a liga dos campeões. É poderosíssimo, fantástico, mágico. Tem o aparato. Não temos essa dimensão. É um caminho que tem de ser criado.”

Incorporar um pedaço de Portugal na Vuelta foi “uma oportunidade para elevar as evidências do que é o ciclismo no mundo”. A emoção é importante e para haver emoção é necessário atrair mais e melhores equipas. É essa a receita para uma Volta a Portugal mais sedutora.

“O ciclismo também é território, turismo e economia. Isto tem de ser colocado nesta equação. Tem de ser potenciado”, defende este dirigente que está prestes a completar o terceiro e último mandato.

A concorrência de outras voltas, para além da Volta estar entalada entre Tour e Vuelta, é o outro desafio. “Durante esta janela, estas três semanas [de intervalo], existem 15 corridas internacionais”, contextualiza. O timing da Volta a Portugal conta também com o regresso dos emigrantes, que engordam as populações do Interior.

“O que muda um país são os campeões”, garante Delmino Pereira. “João Almeida, Iuri Leitão, Rui Oliveira, Rui Costa… estes corredores de sucesso que temos tido… O sucesso muda a nossa modalidade. E a presença em grandes corridas desperta o interesse das marcas, que estão desatentas com o potencial do ciclismo.”

A Volta a Espanha, que começou em Portugal e por aqui ficou durante os três primeiros dias, começou a 17 de agosto e vai disputar-se até 8 de setembro. Ao todo, são 21 etapas e 3.265 quilómetros.