O secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE) fez esta segunda-feira uma antecipação do arranque do novo ano letivo, prevendo a "repetição de problemas" nas escolas, à semelhança dos vividos no último ano letivo, atribuindo as culpas à incapacidade do Governo para resolver problemas.
"Espera-se um início do próximo ano com repetição de problemas, insuficiências e fragilidades há muito identificadas pela FNE, porque o Ministério da Educação e o Governo, em geral, foram incapazes, a tempo e horas, em diálogo e concertação, de definir políticas concretas com respostas e soluções", considerou Pedro Barreiros, em conferência de imprensa, no Porto.
O responsável da FNE deu como exemplo "a inflexibilidade demonstrada [pelo Ministério] ao não querer assumir processos negociais de matérias que visem a valorização das carreiras", tornando pública a sua preocupação "com a indisponibilidade negocial do Governo".
O dirigente sindical apelou ainda a um processo que "permita, antes do arranque do próximo ano letivo, a pacificação das escolas e dos seus profissionais" através de "medidas de valorização da carreira docente" e do "combate à falta de professores".
Tendo isso em vista, Pedro Barreiros mostrou abertura para se reunir com o Governo no decorrer do mês de agosto.
Ano letivo “ficou marcado pelo agravamento das condições de funcionamento das escolas"
A conferência de imprensa da FNE serviu também para se fazer um balanço do ano letivo 2022/2023, que termina oficialmente esta segunda-feira.
Para Pedro Barreiros, que falou no auditório do Sindicato dos Professores da Zona Norte (SPZN), o ano letivo “ficou marcado pelo agravamento das condições de funcionamento das escolas, onde ao problema da falta de professores, se juntou a perturbação das comunidades educativas, pela indisponibilidade do Governo e do Ministério da Educação, em garantir melhores condições de trabalho e valorização das carreiras dos profissionais da educação".
O secretário-geral da FNE assinalou ainda dificuldades sentidas pelos docentes "nas condições de vida e trabalho dos profissionais da educação, tendo provocado impactos negativos, não só ao nível do processo de ensino e aprendizagem, como também ao nível da carreira, ao nível social e económico".
Questionado sobre a perturbação sentida pelos alunos e consequência para as suas aprendizagens, Pedro Barreiros defendeu que "ao contrário do que aquilo que foi tentado passar para a opinião pública, [a mesma] não teve como origem as greves dos professores".
"Se no outro prato da balança [do lado do Governo] verificarmos quantos alunos é que não tiveram professores, não em virtude das greves, mas porque o Ministério da Educação não conseguiu lá colocar nenhum professor, aí tivemos alunos que estiveram meses sem professores", argumentou.
Quanto a ações de luta, estão previstas greves coordenadas com outras organizações sindicais e a instalação de cartazes em cada capital de distrito.
A FNE lançará ainda a "empreitada" do IP 66-23 [seis anos, seis meses e 23 dias por recuperar de tempo de serviço], uma obra que "custará milhões", ironizou Pedro Barreiros.
Trata-se de um cartaz a colocar, em 8 de setembro, no nó do IP3 com o IC6, numa crítica às declarações do primeiro-ministro, António Costa, em 2018, onde afirmou que ao requalificar o IP3 o Governo decidia "não fazer outras evoluções nas carreiras ou nos vencimentos".
A conferência de imprensa serviu também para apresentar o inquérito "online" da FNE, que revelou que a burocracia foi o maior problema sentido no último ano letivo pelos professores, tendo o secretário-geral dito que será feito nova auscultação à classe docente em outubro deste ano.