Depois de muitos anos em que o debate sobre a questão esteve bloqueado, a COP28 alcançou, esta quarta-feira, um acordo que reconhece, "pela primeira vez", a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis, diz António Guterres.
O secretário-geral da ONU reagiu ao consenso que permitiu a aprovação de um documento final na cimeira do clima do Dubai, que defende o fim progressivo dos combustíveis fósseis até 2050.
"A ciência diz-nos que é impossível limitar o aquecimento global a 1,5 graus sem eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis dentro de um prazo compatível com este limite. Este facto foi reconhecido por uma coligação crescente e diversificada de países", afirmou Guterres.
Presente no Dubai, o presidente da associação ambientalista ZERO, diz à Renascença que o acordo tem, "sem dúvida, excelentes indicações", no entanto identifica falhas no texto final da cimeira.
"Também é verdade que nós temos no acordo falsas soluções, muito duvidosas, caras. É preciso ultrapassar as necessidades de financiamento climático para os países em desenvolvimento", diz Francisco Ferreira. "Este é um importante passo em frente, mas a ação é crucial".
O ambientalista da ZERO lembra também a importância do papel de Portugal na "liderança das fontes renováveis, mas precisa também de não se distrair com soluções que são duvidosas, como a exportação de hidrogénio".
"Ainda subsidiamos os combustíveis fósseis e, portanto, temos que diminuir e realmente apostar fortemente em concretizar as nossas próprias metas", apela, em declarações à Renascença.
COP28 "fecha com chave de ouro"
O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, considerou que o acordo alcançado na Cimeira do Clima "fecha com chave de ouro" a participação de Portugal na COP28 e dá uma perspetiva de esperança.
"O facto de termos conseguido uma declaração fecha com chave de ouro a participação de Portugal na COP, mas dá-nos também uma perspetiva de esperança, que é muito necessária na política climática", disse Duarte Cordeiro, no Dubai.
As declarações, à agência Lusa, surgem, após ter sido conseguido um acordo para desbloquear as negociações sobre o clima no Dubai, apelando ao abandono dos combustíveis fósseis, para alcançar a neutralidade carbónica até 2050.
Duarte Cordeiro afirmou que esta declaração, "do ponto de vista daquilo que é o texto e a sua ambição", está "muito mais em linha" com o que diz a ciência, com uma linguagem "do fim dos fósseis".
O governante destacou o facto de, no que diz respeito ao fim dos subsídios fósseis, ter sido retirada do texto inicial "alguma da linguagem que abria alçapões para a sua utilização", tendo o texto sido alinhado "com aquilo que era o mandato da União Europeia".
Reconheceu que não é exatamente o que a União Europeia queria, mas "é um compromisso" e destacou a consagração, na declaração, de compromissos relativamente aos oceanos:.
O ministro realçou que para Portugal "foi importante" que a declaração consagrasse "aspetos relativos aos oceanos".
"Sem a consagração internacional dos oceanos, depois, nós não conseguimos fazer migrar para os planos nacionais o impacto que os oceanos podem ter, desde logo na capa na captura de carbono", referiu.
Já a secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia, considerou que o dia de hoje é "muito feliz".
"Na verdade, 30 anos depois, 28 COP depois, começámos finalmente o fim dos combustíveis fósseis e, por isso, temos de estar muito contentes por termos conseguido que 197 países decidissem em conjunto, por unanimidade, começar este caminho de afastamento dos combustíveis fósseis e também dotar os países mais vulneráveis, que estão mais expostos às alterações climáticas, dos meios para se defenderem, para se protegerem e para assegurarem a qualidade de vida dos seus cidadãos", afirmou a governante.