A rebelião do grupo Wagner, o movimento relâmpago de tropas rumo a Moscovo, acabou.
O gabinete do Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, anunciou que o líder do grupo Wagner aceitou uma proposta para negociar com Putin e travar o avanço das suas forças militares até Moscovo.
Num áudio partilhado na rede social Telegram,Yevgeny Prigozhin já atestou a veracidade do acordo e diz que ordenou a paragem das tropas para evitar um "banho de sangue russo".
“Eles iam desmantelar o grupo Wagner", afirmou Prigozhin. "Decidimos avançar no dia 23 para a Marcha da Justiça. Num dia, percorremos uma distância de até quase 200 quilómetros de Moscovo. Durante este tempo, não foi derramada uma única gota de sangue dos nossos combatentes. Agora, chegou o momento em que o sangue pode ser derramado. Foi por isso que, compreendendo a responsabilidade de derramar sangue russo dos dois lados, decidimos recuar a nossa coluna militar e regressar à nossa base de acordo com o plano”.
Segundo a BBC, ao aceitarem o acordo para recuar, os combatentes do grupo Wagner receberam garantias de segurança.
De acordo com o gabinete de imprensa de Lukashenko, as negociações com o grupo Wagner tiveram o acordo de Putin. "Hoje às 21h00, os presidentes falaram ao telefone. O presidente bielorusso informou o presidente russo, com grande detalhe, sobre os resultados das negociações com o grupo Wagner”, adianta um comunicado que refere, ainda, que Putin agradeceu o apoio de Lukashenko.
Recorde-se que desde o início da invasão da Ucrânia, a Rússia tem utilizado o território da Bielorrússia como apoio.
Este sábado, Svitlana Tikhanovskaya, líder da oposição, disse que a rebelião do grupo Wagner “é a melhor hipótese para expulsar os militares russos” da Bielorrússia. “Se perdermos esta possibilidade, a Rússia far-nos-á o mesmo que à Ucrânia”.
[Em atualização.]
Como se iniciou a rebelião?
O chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, anunciou que o seu exército privado tinha abandonado a Ucrânia, cruzando a fronteira na região do Rostov, uma cidade russa, a sul do país, e um dos pontos principais da invasão à Ucrânia. Prigozhin disse estar disposto a “ir até ao fim”, após apelar a uma rebelião contra o comando militar do país, que acusou de atacar os seus combatentes, num ataque com mísseis.
"Neste momento, atravessámos todos os pontos de fronteira... Os guardas fronteiriços cumprimentaram-nos e abraçaram os nossos combatentes. Agora estamos a entrar em Rostov", afirmou. "Se alguém se meter no nosso caminho, destruiremos tudo... Vamos em frente, vamos até ao fim!".
O líder do grupo paramilitar Wagner disse ter 25 mil soldados às suas ordens e prontos para morrer, instando os russos a juntarem-se a estes numa “marcha pela justiça”.
"Chegámos aqui, queremos receber o chefe do Estado-Maior e Shoigu", disse Prigozhin num dos vídeos, sentado entre dois generais russos de alta patente. "Se eles não vierem, ficaremos aqui, bloquearemos a cidade de Rostov e iremos para Moscovo".
Prigozhyn reclamou o controlo militar da cidade de Rostov e os paramilitares seguem, agora, em direção a Moscovo pela autoestrada M4, tendo já anunciado que tomaram as instalações militares em Voronezh, que fica exatamente a meio caminho entre Rostov e Moscovo.
Em vários clipes de áudio que começaram a ser divulgados na sexta-feira, Prigozhin afirmou que um ataque com mísseis russos tinha matado muitos dos seus combatentes, prometendo, por isso, "vingar-se" e "acabar com o mal trazido pela liderança militar do país".
As acusações de Prigozhin expõem as profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.
O líder do grupo Wagner já tinha afirmado que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporijia, respetivamente, e em Bakhmut, contrariando as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kiev era um fracasso.
Segundo a Defesa britânica, "ao longo das próximas horas, a lealdade das forças de segurança da Rússia, da Guarda Nacional Russa, será a chave para deslindar como é que esta crise vai desenrolar-se".