Brexit: ingleses conseguem manter EU em suspenso
Trabalhistas esta semana, Conservadores na próxima, vão deixando sinais de que tudo pode ainda acontecer. Será que pode haver ainda um novo referendo à continuidade na União Europeia? Para Paulo Rangel, “esta não é uma forte hipótese”, apesar de ter passado a surgir como hipótese. O eurodeputado do PSD esteve na Cimeira de Salzburgo e viu um aspecto negativo na forma como Macron reagiu à questão do Brexit. “A verbalização da sua opinião obrigou May a vir defender a sua honra e acabou por envenenar o debate. Aqueles que ainda procuravam uma via para um acordo que, pelo menos, desse um bom período de transição acabaram por ter um revés”.
Rangel acha que “se tivermos um acordo razoável ou um bom período de transição, tudo isso pode ser favorável para as duas partes” e até pode haver uma reversão ou uma renegociação boa. “Já se não houver acordo de todo, não haverá sequer transição e gera-se uma situação caótica para o Reino Unido e para a União Europeia.
O social-democrata diz que “é preciso tempo. E o que se vê é uma degradação grande da política britânica”. O eurodeputado lembra que “não há nenhuma comparação entre o que era antes do referendo e o que é hoje em dia. Hoje em dia parece uma ‘soap-opera’ de segunda categoria. Há declarações e artigos dentro das áreas trabalhista e sobretudo conservadora que é preocupante. Desde que o referendo se deu, nunca o Governo de Londres conseguiu produzir um documento que desse uma visão estratégica”. Rangel diz que não se percebe bem o que quer o Reino Unido “e seria mais fácil se se soubesse com quem estamos a negociar e o que querem realmente”.
Esta semana os Trabalhistas abriram portas a todas as hipótese, mas Fernando Medina acha que os Conservadores não vão fazer o mesmo. Na opinião do socialista, “a ala do Partido Conservador que defendeu o referendo, foi-se apoiando na mentira de que seria a União Europeia a sair do Reino Unido e não o contrário e que os britânicos conseguiriam vergar a EU e impor as suas condições. O que essa ala conservadora conseguiu convencer os britânicos foi que o Reino Unido conseguiria com um novo acordo ter fronteiras na imigração, ter o livre comércio e manter Londres como grande praça financeira na Europa”. Só que isto chocou com a realidade. Na realidade, a UE mostrou-se disponível apenas para negociar dentro do tipo de acordos que já mantêm com outros países, mas não estava de acordo para partir o mercado interno, mantendo fronteiras na imigração.
“Tudo isto era claro para a UE, mas não para os britânicos que foram atrás desta mentira. O que aconteceu foi que estas pessoas saíram da liderança dos Conservadores e ainda conseguiram criar o caos no partido e forçar May a uma solução que desagrada a toda a gente, UE e linha dura pro-Brexit”.
Medina critica também a posição dos Trabalhistas de Corbyn. Diz que o líder “labour” foi sempre “ambíguo”. O socialista acha que o ideal era estender o período de negociação porque estamos numa situação de bloqueio: do lado inglês há um bloqueio e do lado europeu não se sabe o que aceitar.
"Mau momento" para inquérito a Tancos
A nível interno, analisados os principais temas da actualidade, Medina diz que esta não é a altura para realizar uma comissão parlamentar de inquérito ao furto de armas em Tancos.
“Não minha opinião, não. É mesmo um mau momento e um mau instrumento. Não é no meio de uma investigação policial e da justiça que o Parlamento vai fazer uma comissão de inquérito. Este é o momento de a justiça atuar”, afirma o autarca socialista.
A criação de uma comissão de inquérito sobre o caso de Tancos não é consensual dentro do Partido Socialista. A posição de Fernando Medina contraria o líder da bancada parlamentar do PS, Carlos César, que na terça-feira disse à RTP que os socialistas não se vão opor ao inquérito.
No programa Casa Comum da Renascença, o social-democrata Paulo Rangel considerou que a comissão de inquérito pedida pelo CDS não faz sentido.
“Quando à comissão parlamentar de inquérito, não sei qual é o seu propósito, neste momento. Não sei o que se pretende com isso, porque uma comissão parlamentar de inquérito, supostamente, é para estabelecer factos deste género da investigação, sobre como as coisas de passaram.”
O eurodeputado insiste na ideia que este é um caso político: houve falhas administrativas, políticas e militares que é preciso tirar a limpo.
“Não há uma câmara municipal, não há um instituto público ou uma direção-geral em que ocorra uma coisa destas e não haja um inquérito administrativo e um inquérito político, que não tem nada a ver com a investigação criminal. E neste caso de segurança militar ainda é mais grave. Como é que o chefe de estado maior do Exército foi incapaz de explicar até agora o que se passou, onde estão as falhas. Não é explicar quem roubou ou se foi assim ou assado, é quais são as falhas que tem o sistema, como podem ser colmatadas, onde é que falharam as Forças Armadas”, sublinha Paulo Rangel.
Ministro dos “imbróglios”
A suspensão da transferência do Infarmed de Lisboa para o Porto foi outro dos temas do Casa Comum desta semana.
O social-democrata Paulo Rangel afirma que não é exagerado pedir a demissão do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, devido à acumulação de “imbróglios”.
“Não é só por esta questão. Quando olho para o que aconteceu no Hospital de Gaia, para a farsa com a ala pediátrica do Hospital de S. João, isto mostra bem qual é a fibra do ministro que temos. É um ministro que está sempre a tentar encontrar desculpas, está sempre metido em pequenos imbróglios, são sempres declarações muito simpáticas, mas depois não se traduzem em nada”, critica Paulo Rangel.
O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, considera que “este é um daqueles casos em que apetece dizer: ‘o que que nasce torto, tarde ou nunca se endireita’”.
O processo da candidatura à Agência Europeia do Medicamento e a posterior promessa de deslocalização do Infarmed foram processos mal conduzidos pelo Governo, admite.
Como português e autarca de Lisboa, Medina defende a necessidade de “desconcentração de serviços da Administração Central para outras zonas do território nacional” e a importância do acordo entre PS e PSD para estudarem a descentralização.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus