D. Tolentino Mendonça defendeu este domingo que a solidão se tornou numa "epidemia descontrolada".
Na cerimónia de coroação da imagem de Nossa Senhora, esta manhã, na Basílica de Mafra, o cardeal enviado pelo Papa para presidir à missa considerou que a solidão responsabiliza a sociedade.
"Hoje morre-se de solidão e a solidão não se cura com comprimidos. Somos a medicina uns dos outros", defende.
"O drama da solidão responsabiliza-nos a perguntar que tipo de sociedade queremos ser. Queremos ser consequentes com a afirmação de que cada vida tem valor? Estamos dispostos a lutar uns pelos outros, não só quando é fácil, mas também quando é árduo e demorado?", questiona.
D. Tolentino Mendonça sublinhou que a sociedade necessita de romper com a indiferença e o egoísmo.
"Precisamos de um sobressalto, de um despertar, de um romper decidido com os automatismos que nos enclausuram nas nossas zonas de conforto. Precisamos de romper com a indiferença. Associemo-nos à paixão de Cristo e não à nossa vaidade, à nossa indecisa confusão, ao nosso egoísmo, mesmo que se, por vezes, mascarado de militância caritativa", apelou.
"Papa Francisco exorta-nos a seguir o exemplo de Maria"
Na basílica de Mafra, D. Tolentino de Mendonça destacou ainda a importância da coroação de Nossa Senhora da Soledade para o culto mariano. Para o cardeal, a celebração da Virgem é uma oportunidade única para rever os ensinamentos de Maria – e para relembrar a passagem do Papa Francisco por Portugal.
“O nosso amado Papa Francisco, que recentemente esteve em Lisboa, na Jornada Mundial da Juventude, confirmou a fé da Igreja. Alentou-nos e rejuvenesceu-nos com o entusiasmo da Esperança. O Papa Francisco exorta-nos a seguir o testemunho de Maria - que nos encaminha, nos fortalece, nos encoraja na adesão a Jesus”, explicou.
O Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação falou ainda de José Saramago. Recordando o romance “Memorial do Convento” – cujo um dos planos de narração se foca na construção da basílica de Mafra –, Tolentino de Mendonça comparou a experiência da protagonista ao poder “transformador” da oração.
“A oração alarga a nossa capacidade de agir e de amar. Lembro-me de uma curiosa passagem do romance «Memorial do Convento». A protagonista está desesperada e só encontra consolação quando, ao se aproximar deste convento, ouve vozes a rezar humildemente. Quando ouve o eco das preces, ela diz «talvez estas palavras de oração estivessem curando as feridas». E o narrador conta que ela se juntou à oração”, rematou.
Como referiu a Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra em comunicado em dezembro de 2020, quando o Papa Francisco anunciou a decisão, a coroação de Nossa Senhora da Soledade tem “o propósito de estender a todo o orbe católico a importância deste título mariano e o seu culto, fortalecendo assim a piedade cristã nas suas mais diversas expressões".
A imagem data de 1773 e foi restaurada em 2018 pela Real Irmandade, altura em que foram descobertos sete manuscritos com pedidos a Nossa Senhora da Soledade e que estavam cosidos aos bordados do manto sedoso da Virgem.
Por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco abençoou a coroa, na missa que celebrou na manhã de 4 de agosto na Nunciatura Apostólica, em Lisboa.
Portugal não recebia uma celebração deste género desde 1946, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Antes disso, em 1904, a Nossa Senhora do Sameiro, em Braga, foi agraciada com esta coroação.
[Artigo atualizado às 16h43]