Os indígenas de diversos povos que participam no Sínodo especial para a Amazónia, a decorrer no Vaticano, estão a promover manifestações e eventos para denunciar a “difícil realidade” que enfrentam nos seus territórios.
“São oportunidades para fazer conhecer as ameaças sofridas pelos povos numa conjuntura de crescentes violências contra as comunidades que vivem na Amazónia”, explica o Conselho Indigenista Missionário, da Igreja Católica no Brasil.
A sala de imprensa da Santa Sé recebeu esta quarta-feira Yesica Patiachi, indígena Harakbut, que a 19 de janeiro de 2018 emocionou o Papa Francisco, num encontro no território amazónico do Peru, ao denunciar as “crueldades e injustiças” do passado.
“Pedimos-lhe que nos defenda”, disse então a responsável da equipa da pastoral indígena no vicariato apostólico de Puerto Maldonado (Peru), que participa na assembleia sinodal, como ouvinte (auditora).Amazónia, Perante os jornalistas, Yesica Patiachi lamentou o esquecimento das línguas indígenas e a “asfixia” provocada pelos modelos de desenvolvimento impostos desde fora.
“Muitos querem ver os povos indígenas numa montra”, denunciou, antes de perguntar: “Onde está a ONU?”.
A indígena falou das vítimas de tráfico de pessoas, abusos sexuais ou maus-tratos às mulheres.
“Onde podemos ir para denunciar estes crimes?”, questionou.
Os harakbut foram vítimas de um massacre que provocou 10 mil mortes, na época da ‘febre da borracha’, no século XIX, uma violência travada com a ajuda de missionários católicos, em particular o dominicano José Álvarez Fernández, conhecido como ‘padre Apaktone’ (1890-1970).
Nos eventos paralelos ao Sínodo, representantes indígenas têm denunciado “projetos de morte” que se instalam na Amazónia, ligados à “mineração, invasão madeireira, agronegócio, hidroelétricas”.
“Não queremos esse desenvolvimento apresentado pelo atual modelo económico, que destrói e mata. Juntos choramos pela Mãe Terra. Não a podemos tomar como objeto de negócio”, indica Ernestina Makuxi, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, Brasil.
Para a indígena Edna Sateré Mawé, é preciso que o modelo de consumo presente em países europeus leve em conta a origem dos produtos, procurando saber se os mesmos “estão contaminados com sangue dos povos indígenas e amazónicos”.
As lideranças indígenas reuniram-se na ‘Tenda da Amazónia – Casa Comum’, que funciona nas imediações do Vaticano.
Na conferência de imprensa desta tarde, D. Wellington Tadeu de Queiroz Vieira, bispo de Cristalândia (Brasil), desdramatizou a “diversidade de opiniões”, que acontece “num ambiente muito fraterno, de muito respeito”.
O responsável assumiu não ver no celibato o “maior dos problemas” na falta de padres, mas sim “os escândalos e a falta de santidade” dos ministros ordenados, defendendo ainda uma “melhor distribuição” dos presbíteros pelo território amazónico, “com espírito missionário”.
D. Pedro José Conti, bispo de Macapá (Brasil), território de 148 mil km2, falou aos jornalistas de uma Igreja com “rosto amazónico e laical”, onde algumas comunidades apenas têm Missa dominical duas vezes por ano.
O Sínodo especial para a Amazónia, convocado pelo Papa Francisco, decorre até 27 de outubro, no Vaticano, com a participação dos bispos católicos da região, de representantes indígenas, convidados e especialistas.