O eurodeputado socialista Francisco Assis considera "extemporânea" qualquer discussão sobre a liderança do PS, defendendo que agora o mais importante é garantir a eleição de um Presidente da República oriundo do espaço político deste partido.
Esta posição foi transmitida à agência Lusa por Francisco Assis, dirigente socialista que até agora vinha sendo apontado como um dos nomes mais fortes que poderiam disputar a António Costa o cargo de secretário-geral do PS. À Renascença, na segunda-feira, o socialista Álvaro Beleza defendeu que Assis "daria um grande líder" do PS.
"Considero extemporânea qualquer discussão sobre a liderança do PS. Não podemos perder de vista que temos eleições presidenciais dentro de três meses e é agora ainda mais importante garantir a eleição de um Presidente da República oriundo do nosso espaço político", afirmou o cabeça de lista socialista nas eleições europeias de 2014.
Na perspectiva de Francisco Assis, todas as energias políticas dos socialistas "devem ser canalizadas para esse objectivo" presidencial "e não devem ser gastas em disputas internas fora de tempo".
"O país reclama um PS forte, com rumo e com elevado sentido da responsabilidade institucional", advertiu.
Política portuguesa mudou a 4 de Outubro
Numa análise sintética sobre os resultados das eleições legislativas, Francisco Assis defendeu que este acto eleitoral alterou "significativamente a realidade política nacional".
"A coligação de direita ganhou as eleições, mas perdeu a maioria absoluta; o PS, subindo ligeiramente, ficou aquém dos objectivos expectáveis e a extrema-esquerda parlamentar reforçou a sua expressão. Face a este cenário ao PS incumbem especiais responsabilidades de todo em todo incompatíveis com atitudes precipitadas e declarações imponderadas", insistiu o eurodeputado e ex-presidente do Grupo Parlamentar do PS.
Para Francisco Assis, "neste momento tão difícil, exige-se a todos os militantes - e em especial aos seus dirigentes - que mantenham a serenidade e a elevação imprescindíveis à realização de uma indispensável discussão acerca do nosso presente e do nosso futuro".
"Como tal teremos que evitar a tribalização do partido, a sua transformação num espaço de confronto de claques, a consagração da disputa personalizada em detrimento de uma séria reflexão de que não deveremos prescindir", acrescentou.
PS deve rejeitar “chantagens”
Para Assis, o PS deve assumir a liderança da oposição ao Governo PSD/CDS-PP, nunca se subjugando a chantagens, mas deve ser sensível às "legítimas" preocupações de estabilidade política.
"Um grande partido como o PS não pode, em nenhuma circunstância, colocar-se numa situação de fragilidade perante as chantagens e as ameaças de outras forças partidárias à sua esquerda ou à sua direita. Nesta perspectiva, entendo que o PS deve assumir com clareza a liderança da oposição ao governo de direita, sem que isso signifique uma indisponibilidade de princípio para a viabilização dos instrumentos imprescindíveis à governação do país", advogou o cabeça de lista dos socialistas às eleições europeias de 2014.
O ex-presidente do Grupo Parlamentar do PS sob as lideranças de António Guterres e José Sócrates sustentou que estes dois princípios de orientação não são incompatíveis.
"Bem pelo contrário, o país não compreenderia nem um PS subjugado à chantagem parlamentar da direita, nem um PS insensível às legítimas preocupações de estabilidade política. Abre-se, assim, uma possibilidade real para a realização de um diálogo útil entre o Governo e a principal força da oposição, sem pôr em causa a identidade nem de um nem de outro", acrescentou Francisco Assis, que foi derrotado por António José Seguro na corrida à liderança do PS.