Esta quinta-feira, Espanha acordou com um caso de machismo. No passado domingo, estudantes do Colégio Masculino de Elías Ahuja, nas janelas da residência universitária em Madrid, dirigiram gritos misóginos às vizinhas do Colégio Feminino de Santa Mónica.
O vídeo do momento, publicado inicialmente na rede social TikTok, demonstra que os alunos da Universidade Complutense de Madrid não pouparam nas palavras utilizadas.
“Bonecas, p****, saiam das vossas tocas como coelhas! São umas p**** ninfomaníacas! Prometo-vos que se vão f**** todas na ‘capea’! Vamos, Ahuja!”, pode-se ouvir.
Num comunicado oficial, publicado no Instagram, a direção do Elías Ahuja diz condenar "completamente as manifestações de alguns aprendizandos". "Consideramo-las incompreensivas e inadmissíveis, tanto na forma, como no conteúdo. Além disso, são totalmente contrárias ao ideário e valores do colégio."
Na mesma nota, pedem "desculpas públicas" à direção e às alunas do Colégio de Santa Mónica, assim como obrigarão os seus alunos à participação em "cursos de sensibilização para a igualdade de género".
No entanto, estas demonstrações misóginas não serão caso único. Aliás, segundo o jornal El País, estes comportamentos são conhecidos entre os universitários como 'la granja', que muitas das vezes começam com a reprodução de sons animais.
O próprio diretor do colégio, Manuel García Artiga, admite que estes comportamentos são habituais e "uma forma de se expressarem, mas que é claramente dirigido às raparigas" da escola feminina.
De acordo com o mesmo jornal espanhol, o subdiretor do Elías Ahuja, Álvaro Nieto, confirma que o estudante responsável pelo início dos gritos machistas já foi expulso esta segunda-feira. Contudo, o dirigente salienta tratar-se de uma medida "automática", pelo que o aluno poderá recorrer e contar a sua versão do sucedido.
A direção da escola confirma também que decorrem averiguações internas sobre outros possíveis culpados, uma vez que "nem todos" os 174 estudantes terão participado nas demonstrações.
Entretanto, a vice-reitora da Universidade Complutense de Madrid, Rosa de Lafuente, deslocou-se ao estabelecimento esta quinta-feira, onde se reuniu com os responsáveis do colégio.
Ao El País, informou que já foi instaurada uma investigação interna, postura essa também anunciada no Twitter.
Por outro lado, a 'capea', festejo mencionado no vídeo e que consiste numa espécie de tourada amadora e, supostamente, sem mortes, foi suspensa indeterminadamente pelo colégio.
"Basta de machismo, já!"
O vídeo, que circulou nos últimos dias nas redes sociais, chegou às mais altas instâncias do poder político espanhol, suscitando reações incisivas de Pedro Sánchez.
Na rede social Twitter, o primeiro-ministro espanhol afirma que não se podem "tolerar estes comportamentos que geram ódio e atentam contra as mulheres". "É especialmente doloroso ver que os protagonistas são jovens", lamenta.
"Nem um passo atrás. As políticas de igualdade são necessárias. Basta de machismo, já!", exclama Sánchez.
À margem de uma cimeira da Comunidade Política Europeia em Praga, Chéquia, o líder do executivo de Espanha falou aos jornalistas sobre um acontecimento "inexplicável, injustificável, repugnante".
O presidente da Câmara de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, do Partido Popular (PP), classificou o ocorrido como "degradante, machista e repugnante".
Já o Partido Socialista de Espanha (PSOE) e o Más Madrid (MM) pedem que Isabel Ayuso, presidente da comunidade madrilena, exija o apuramento de responsabilidades junto do colégio.
A Procuradoria de Madrid abriu uma investigação sobre o caso ocorrido na capital espanhola. Segundo a Fiscalía, poderá mesmo tratar-se de um crime de ódio, especialmente depois da entrada em vigor da lei "Sim é Sim", que prevê a punição de conduta imprópria de teor sexual e violento.