A palavra “terroristas” é repetida várias vezes pelo secretário de Estado da província de Cabo Delgado ao longo desta entrevista. Armindo Ngunga confirma que os ataques na zona de Palma deixaram um rasto de destruição que diz ser “preocupante”.
“Houve mortes, destruição de casas e infraestruturas públicas e privadas”, conta o governante ao telefone a partir da província.
Estes ataques tiveram consequências como as que “geralmente acontece sempre que os terroristas fazem um ataque em qualquer sítio”, opina o secretário de Estado de Cabo Delgado que, quando questionado sobre a situação na cidade de Palma, confirma que há um clima de acalmia.
“A situação melhorou bastante, está a normalizar-se. Já se nota um movimento de gente na vila, portanto as coisas estão a melhorar”, repete Armindo Ngunga, que diz ter recebido essas indicações por uma equipa que esteve em Palma recentemente.
Numa altura em que o Governo de Moçambique fez veicular a informação de que os soldados moçambicanos já tomaram Palma, questionados sobre os insurgentes, o responsável da província de Cabo Delgado explica que não tem informações sobre detenções.
“Houve muitas mortes, da parte deles, também alguns fugiram e escaparam”, refere Ngunga, acrescentando que alguns dos alegados terroristas estão a ser perseguidos pelas tropas moçambicanas.
Enquanto isso, em Pemba não pára de aumentar o número de pessoas que foge à violência. É um desafio para o executivo, que tem optado por colocar os deslocados em casas de moçambicanos em vez de num campo de refugiados.
O secretário de Estado da província de Cabo Delgado lembra que são mais de 500 mil deslocados. Há números de organizações internacionais que chegam a referir mais de 700 mil pessoas que fugiram da violência.
Armindo Ngunga aponta as dificuldades: “As pessoas têm de se alimentar, têm de se acomodar em condições. Temos de criar condições condignas para que as pessoas possam continuar a viver e sobretudo, a recuperar dos traumas psicológicos.”
O governante explica que o executivo optou por “não criar os famosos e tradicionais centros de acomodação, mas que as famílias e as pessoas de boa vontade pudessem acolher um grupo ou outro de deslocados, enquanto criamos novas condições em novas aldeias”.
O Governo de Maputo está assim apostado em dar pedaços de terra aos deslocados para que possam cultivar para alimentar as suas famílias. Questionado sobre de que forma Portugal poderá ajudar, o representante do Governo central em Cabo Delgado afirma: “Há uma série de coisas que o Governo português nos poderia apoiar”.
Como exemplos, Armindo Ngunga aponta os chamados “kit de abrigo”, que prestam ajuda a quem não tem um teto para dormir, “dando condições de acomodação”.
Mas o representante de Maputo dá outro exemplo de necessidade que há no terreno: há muitas crianças entre quem fugiu da violência. “Temos crianças que não têm sala de aula”, refere, considerando que, “nestas necessidades específicas”, os “nossos amigos portugueses”, como lhes chama, “podiam ajudar”.
No terreno estão já várias organizações não-governamentais e, em Moçambique, toda a ajuda é pouca, reconhece Armindo Ngunga, que diz não se lembrar “de nenhum país que, em situação de terrorismo, tenha tido condições económicas para fazer frente”. Portanto, conclui, “qualquer país precisaria de apoio” e Moçambique não é exceção.