Um novo "abre-latas". Francisco Conceição, filho de Sérgio Conceição, esteve 13 minutos em campo frente ao Boavista e provou por que motivo pode vir a afirmar-se no futebol como um avançado de grande utilidade.
“Aquilo que acho é o que está visível – que a nível de criatividade é um jogador muito bom, forte nas ações de um contra um e com muito boa capacidade de finalização” diz a Bola Branca Manuel Tulipa, ex-treinador da formação do FC Porto, que trabalhou com Francisco Conceição no Olival.
O técnico faz notar que “quando os jogos estão bloqueados e o coletivo não consegue resolver os problemas, o Francisco, por si só, através das ações individuais, consegue rapidamente romper as últimas linhas do adversário e, com facilidade, chegar à baliza. Este tipo de jogador é sempre um valor acrescido para qualquer equipa e, nesse aspeto, o Francisco é exímio”, afirma.
Tão intenso como o pai, melhor a fintar
Francisco Conceição tem 18 anos e está há três na formação do FC Porto. Depois de seis épocas em Alcochete, na formação do Sporting, Francisco fez as malas e rumou ao norte do país para cumprir uma época no ‘satélite’ Padroense, antes de se fixar no Olival.
Contrariamente ao pai Sérgio, que antes de se afirmar no FC Porto percorreu empréstimos no Penafiel, Leça e Felgueiras, Francisco Conceição dá claros sinais de ter tudo para pegar de estaca no campeão em título.
Tulipa destaca que o avançado "fez as coisas muito rapidamente, claramente por mérito dele, tendo crescido como jogador e como pessoa; cuidou-se bem fora do campo, o seu corpo hoje é diferente, tal como a concentração e a intensidade de jogo. Foi claramente premiado com esta oportunidade”, considera.
O ex-treinador de Francisco Conceição nos sub-17 e sub-19 do FC Porto, confrontado pela Renascença sobre os traços identitários comuns a Sérgio Conceição e ao filho Francisco, considera que este herdou a "irreverência, a forma muito intensa e competitiva com que vive o jogo. Sérgio tinha outras coisas que fizeram dele um jogador de topo, mas a nível do engano, do drible não tinha esta capacidade que tem o Francisco”, acentua.
‘Puxão de orelhas’ não foi só para jogadores da formação
Se Francisco Conceição seguir os conselhos do pai, saberá que o sucesso de ontem pouco importa se não tiver continuidade no dia de amanhã.
Foi o que Sérgio Conceição fez depois do empate (2-2) com o Boavista, ao qual reagiu reconhecendo na exibição portista a sua “pior primeira parte como treinador", apontando o dedo aos jogadores da formação e fazendo-lhes ver que “para jogar no Porto não basta ter contrato, ser bonito nas redes sociais ou ser da formação”. As afirmações do técnico portista não são unicamente dirigidas aos jovens formados no Olival, considera Manuel Tulipa.
“Aquilo que o Porto não garantiu na primeira parte não tem a ver só com dois ou três jogadores, mas sim com toda a dinâmica da equipa” considera Tulipa, apontando aspetos típicos das equipas de Sérgio Conceição, como sejam “a reação à perda da bola, a intensidade e a procura de romper as linhas adversárias, tanto na largura como na profundidade”, diz.
Neste contexto, Tulipa entende que o técnico portista “vincou isso, mas não parece que o tenha feito especificamente para os jogadores que vêm da formação e que têm que dar o mesmo que os outros”.
Como derrotar a Juventus?
O FC Porto está de regresso à competição na Liga dos Campeões, onde se prepara para receber esta quarta-feira, dia 18 de fevereiro, a Juventus, em jogo da primeira mão dos oitavos de final.
Manuel Tulipa, nesta entrevista à Renascença destaca a grande qualidade de algumas das individualidades da equipa treinada por Andrea Pirlo, sublinhando contudo que “a Juventus não é uma equipa que construa muitas oportunidades em momentos de organização ofensiva, mas já nos momentos de transição, quando lhe deixam espaço para a saídas, por exemplo com Ronaldo e Morata, é uma equipa muito forte”.
Por esse motivo importante que o FC Porto “nesses momentos, anule a possibilidade de ligação entre os jogadores da Juventus e, depois, faça o seu jogo e tente ser criativo” porque, assinala, o campeão italiano contra adversários “que tenham bola, que a façam circular e ponham a equipa a dançar de um corredor para o outro, tem dificuldades”.
Manuel Tulipa, com uma longa carreira como avançado, estreou-se como treinador na época 2005/2006, primeiro como adjunto e depois como técnico principal da Ovarense. Seguiram-se passagens por emblemas como o Ribeirão, Estoril Praia, Trofense e Sporting da Covilhã.
Em 2017, Tulipa passou a integrar a estrutura técnica do FC Porto, tendo treinado progressivamente as equipas de sub-15, sub-17 e sub-19. Esse ciclo terminou no final da época passada. Manuel Tulipa, de 48 anos de idade, não está parado.
Os últimos meses têm sido aproveitados para “ver outras formas de pensar, de analisar o jogo de equipa e melhorar alguns aspetos” como treinador. “Esta minha permanência durante de três anos na formação do FC Porto foi muito valorosa” considera, concluindo com a esperança de “rapidamente ter oportunidade para trabalhar de forma a vincar essa aprendizagem”, termina.