São boas notícias para o bastonário da Ordem dos Médicos as que foram anunciadas pelo director executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) esta quinta-feira, mas para Miguel Guimarães as alterações já devim ter acontecido há mais tempo.
Apesar de haver aspetos positivos no anúncio, à Renascença o bastonário alerta que são precisas mudanças também noutras áreas para além de Ginecologia e Obstetrícia.
"São aspetos positivos e que já deviam ter acontecido há mais tempo. Mas deixo só como alerta que o senhor diretor executivo do SNS está só a falar para ginecologia e obstetrícia, porque estamos a falar de mulheres grávidas - e nem sequer estamos a falar de doentes, na maior parte dos casos - estamos a falar de um processo fisiológico normal de uma mulher grávida e da respetiva criança, e isto são duas vidas, e aqui há sempre uma preocupação muito maior. Mas nós temos problemas a nível da medicina Interna, problemas a nível da Urologia, Cirurgia Vascular e de tantas e tantas outras especialidades."
A atualização dos valores dos exames, também anunciada por Fernando Araújo, é bem-vinda. No entanto, Miguel Guimarães lembra que o pagamento aos convencionados deve ser também atualizado.
"Esta ideia de melhorar o valor das ecografias obstétricas é importante, é bem-vinda. E é bem-vinda dentro do SNS, se for feita naquilo que é chamada produção acrescida dentro do Serviço Nacional de Saúde, mas também nas convenções que existam no setor privado ou social, quando o SNS não consegue dar resposta."
Se isto não for acautelado, adianta, "cria-se uma situação que depois leva a que cá fora deixe de haver resposta completamente".
"Se eu faço uma ecografia e ganho 'x' no setor privado e se eu estiver no setor público e se fizer a mesma ecografia e ganho duas ou cinco vezes mais - dentro daquilo que são os 200 ou 500% de aumento - é óbvio que isto cria uma diferença que depois as próprias pessoas que estão fora do sistema também não vão querer fazer, sobretudo porque os valores são extremamente baixos."
Na mesma linha, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros refere que, apesar do anúncio do diretor executivo do SNS ser positivo, a prioridade deve passar pela reorganização do próprio SNS.
"Não é só a questão do dinheiro", destaca Ana Rita Cavaco. "Pode ser um ponto positivo, mas precisaremos de fazer primeiro a reorganização da prestação de cuidados. Então, sim, fazer também essa atualização."
Para os enfermeiros, refere a bastonária, "era muito mais importante que as pessoas pudessem ter mais acessibilidade [aos cuidados de saúde], muito mais segurança em termos de prestação de cuidados antes de estarmos a fazer esta atualização, mas enfim, é um ponto positivo e é uma decisão, uma estratégia que não é nossa mas com a qual estamos de acordo, mas não para já".
Ana Rita Cavaco adianta que, mais que este reforço financeiro, o Serviço Nacional de Saúde deveria ter criado os Centros de Parto Normal, uma proposta dos próprios enfermeiros.
"Ao criar estes Centros de Parto Normal, nós, tal como nos outros países, reduziríamos muitíssimo o número de médicos que precisaríamos para fazer os partos, até porque nos outros países eles intervêm apenas naqueles que não são partos normais. Por isso não compreendemos porque é que em Portugal não se avança com uma medida que, desde a década de 80, é aconselhada pela própria Organização Mundial de Saúde."