Uma semana depois do ataque à vila de Palma, o padre António Chamboco, pároco local, não sabe do paradeiro dos cristãos que constituíam a sua comunidade.
Em declarações à AIS, o sacerdote refere que não estava em Palma, quando começou o ataque, no dia 24 de março, tendo acompanhado à distância as notícias.
“Quando ouvi esse ataque, o meu sentimento foi de dor. De dor porque já estava em Palma há um ano e já estava afeiçoado às gentes, à comunidade. Então, quando ouvi [as notícias] do ataque, o meu sentimento foi de dor e de tristeza...”, conta à fundação pontifícia.
O sacerdote refere que num primeiro momento ainda foi possível manter contacto com Palma, mas rapidamente as linhas telefónicas ficaram inutilizadas, aumentando ainda mais o desespero de quem queria saber o que se estava a passar.
“Eu estive sempre em contacto com dois coordenadores da comunidade. Na primeira fase [do ataque], quando a rede [de telefones] estava a funcionar, eles comunicaram que estavam aos tiros [na vila], mas, cinco minutos depois, já não havia mais comunicação… Essa foi a única comunicação que eu tive”, afirma o padre António Chamboco.
O sacerdote indica que não sabe se a Igreja e a casa paroquial de Palma foram destruídas ou vandalizadas pelos terroristas e mostra-se preocupado com o sofrimento da população da vila de Palma, com cerca de 50 mil habitantes.
No mais recente ataque, ocorrido no passado dia 24, em Palma, dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano. Segundo alguns relatos, Palma é hoje uma vila fantasma, sem ninguém, com milhares de pessoas em parte incerta.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou, na segunda-feira, o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Sobre a esmagadora maioria dos cristãos de Palma, o padre Chamboco diz que “não se sabe quase nada”, acrescentando que, da sua equipa, “apenas conseguiu estabelecer contacto com os dois coordenadores”, temendo pela vida dos seus paroquianos.
“Sobre os cristãos, tenho algumas notícias, a partir das pessoas que foram resgatadas e já chegaram a Pemba”, conta o sacerdote, referindo que, “pelo menos, um coordenador respondeu nas proximidades da fronteira com a Tanzânia. Ele, quando fugiu dos ataques, foi na direção da Tanzânia. Então, ele está lá, na Tanzânia”, diz.
O outro responsável da paróquia estará em Nangade, segundo informação que foi transmitida ao sacerdote por uma senhora que, entretanto, foi resgatada e chegou à vila.
Apesar de toda a violência e do desespero das pessoas, o sacerdote considera que é necessária “uma mensagem de esperança” indicando que este tempo de Semana Santa “é um tempo propício para isso”.
“Rezamos nesta Semana Santa para que Cristo, com a sua paixão, morte e ressurreição, traga alívio para estas pessoas que estão a sofrer, neste momento. Também dou uma mensagem de esperança. Temos que rezar e confiar em Deus, para que possa assistir e dar alívio a todo este problema que está a acontecer na província de Cabo Delgado”, afirma o sacerdote.
A região de Cabo Delgado tem sido palco de ataques por grupos armados, desde outubro de 2017, e que têm conduzido a região para uma situação de profunda crise humanitária. De acordo com as Nações Unidas, no final do ano passado havia já mais de 670 mil deslocados e mais de dois mil mortos. Um número que já estará desatualizado.